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quarta-feira, 11 de março de 2020

Celebração do Perdão no Jubileu 2000: Rito

Um dos momentos mais significativos do Grande Jubileu foi a Celebração do Perdão presidida pelo Papa João Paulo II na Basílica de São Pedro no I Domingo da Quaresma, no dia 12 de março do ano 2000.

Já nos documentos preparatórios, a Carta Apostólica Tertio Millennio Adveniente e a Bula Incarnationis Mysterium, o Papa havia destacado a dimensão de “purificação da memória” do Ano Santo. Por isso, na celebração do I Domingo da Quaresma o Sucessor de Pedro pediu perdão ao Senhor pelos pecados passados e presentes dos filhos da Igreja.

A celebração também foi precedida de um estudo da Pontifícia Comissão Teológica Internacional, intitulado “Memória e reconciliação: A Igreja e as culpas do passado”, que fundamentou teologicamente o gesto do Papa, o qual gerou algumas controvérsias na época.

A celebração

A Celebração do Perdão teve lugar dentro da Missa do I Domingo da Quaresma presidida pelo Papa João Paulo II na Basílica de São Pedro, na forma de uma pequena “estação quaresmal”: houve um momento inicial de oração junto à Porta Santa, a procissão com o canto da Ladainha de Todos os Santos e a Celebração Eucarística.

Junto do altar foi colocado o crucifixo da igreja romana de San Marcello al Corso, um crucifixo de madeira do século XIV tradicionalmente venerado durante os Jubileus, gesto repetido pelo Santo Padre no final do rito penitencial.

A estação inicial teve lugar junto à Porta Santa da Basílica, diante da imagem da Pietà, de onde o Papa iniciou a celebração com o sinal da cruz, a saudação e uma oração inicial. Seguiu-se a procissão com o canto da Ladainha de Todos os Santos até o altar central.

Chegando ao altar, o Pontífice recitou a oração do dia e a celebração prosseguiu como de costume. Após a homilia teve lugar o rito penitencial, na forma de uma Oração Universal, como na Sexta-feira Santa:

Depois de uma monição introdutória e alguns instantes de oração silenciosa, segiuu-se o mesmo rito por sete vezes: um dos Cardeais da Cúria Romana recitava um convite à oração, seguido de um instante de silêncio e concluído com a oração do Santo Padre. Em seguida, enquanto o coro e a assembleia entoavam o refrão “Kyrie eleison” (Senhor, tende piedade), o Cardeal acendia uma lâmpada diante do crucifixo.

Após os sete pedidos de perdão, João Paulo II recitou uma oração conclusiva e beijou o crucifixo tanto como sinal de veneração quanto como de pedido de perdão. A partir deste momento, a Missa  do I Domingo da Quaresma prosseguiu como de costume.


Segue abaixo o texto utilizado no rito penitencial, em uma tradução livre feita pelo nosso blog:

Oração Universal
Confissão das culpas e pedido de perdão

Monição inicial
Santo Padre: Irmãos e irmãs, supliquemos com confiança a Deus nosso Pai, misericordioso e compassivo, lento na ira, grande no amor e na fidelidade,  para que acolha o arrependimento do seu povo, que confessa humildemente as próprias culpas,
e lhe conceda a sua misericórdia. 
Todos rezam por alguns instantes em silêncio. 

I. Confissão dos pecados em geral
Cardeal Bernardin Gantin, Decano do Colégio dos Cardeais:
Oremos para que a nossa confissão e o nosso arrependimento sejam inspirados pelo Espírito Santo, a nossa dor seja consciente e profunda, e para que, considerando com humildade as culpas do passado, em uma autêntica «purificação da memória», nos empenhemos em um caminho de verdadeira conversão.
Oração em silêncio.

Santo Padre: Senhor Deus, a tua Igreja peregrina, sempre por ti santificada no sangue do teu Filho, em todo o tempo conta no seu seio com membros que refulgem pela santidade e outros que na desobediência a ti contradizem a fé professada e o santo Evangelho. Tu, que permaneces fiel mesmo quando nós nos tornamos infiéis, perdoa as nossas culpas e concede-nos sermos tuas autênticas testemunhas entre os homens. Por Cristo, nosso Senhor. R. Amém.

Cantor: Kyrie, eleison; Kyrie, eleison; Kyrie, eleison. 
Assembleia: Kyrie, eleison; Kyrie, eleison; Kyrie, eleison. 
É acesa uma lâmpada diante do Crucifixo. 

II. Confissão das culpas no serviço da verdade
Cardeal Joseph Ratzinger, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé:
Oremos para que cada um de nós, reconhecendo que também homens da Igreja, em nome da fé e da moral, recorreram por vezes a métodos não evangélicos no solene empenho da defesa da verdade, saiba imitar o Senhor Jesus, manso e humilde de coração.
Oração em silêncio.

Santo Padre: Senhor, Deus de todos os homens, em certas épocas da história os cristãos às vezes cederam a métodos de intolerância e não seguiram o grande mandamento do amor, deturpando assim o rosto da Igreja, tua Esposa. Tem misericórdia dos teus filhos pecadores e acolha o nosso propósito de buscar e promover a verdade na doçura da caridade, bem sabendo que a verdade não se impõe senão em virtude da própria verdade. Por Cristo, nosso Senhor. R. Amém.

R. Kyrie, eleison; Kyrie, eleison; Kyrie, eleison. 
É acesa uma lâmpada diante do Crucifixo. 

III. Confissão dos pecados que comprometeram a unidade do Corpo de Cristo 
Cardeal Roger Etchegaray, Presidente do Comitê Central para o Jubileu:
Oremos para que o reconhecimento dos pecados, que laceraram a unidade do Corpo de Cristo e feriram a caridade fraterna, aplaine a estrada rumo à reconciliação e a comunhão de todos os cristãos.
Oração em silêncio.

Santo Padre: Pai misericordioso, na vigília da sua Paixão teu Filho rezou pela unidade dos crentes n’Ele: esses porém, contradizendo a sua vontade, se opuseram e se dividiram, se condenaram e combateram entre si. Invocamos com força o teu perdão e te pedimos o dom de um coração penitente, para que todos os cristãos, reconciliados com ti e entre si em um só corpo e um só espírito, possam reviver a experiência alegre da plena comunhão. Por Cristo, nosso Senhor. R. Amém.

R. Kyrie, eleison; Kyrie, eleison; Kyrie, eleison. 
É acesa uma lâmpada diante do Crucifixo. 

IV. Confissão das culpas nas relações com Israel 
Cardeal Edward Cassidy, Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos:
Oremos para que, na recordação dos sofrimentos suportados pelo povo de Israel na história, os cristãos saibam reconhecer os pecados cometidos por não poucos deles contra o povo da aliança e das bênçãos, e assim purificar os seus corações.
Oração em silêncio.

Santo Padre: Deus de nossos pais, tu escolheste Abraão e a sua descendência para que o teu Nome fosse portado às nações: nós estamos profundamente tristes pelo comportamento de quantos no curso da história fizeram sofrer estes teus filhos, e pedindo-te perdão queremos empenhar-nos em uma autêntica fraternidade com o povo da aliança. Por Cristo nosso Senhor. R. Amém.

R. Kyrie, eleison; Kyrie, eleison, Kyrie, eleison. 
É acesa uma lâmpada diante do Crucifixo. 

V. Confissão das culpas cometidas com comportamentos contra o amor, a paz, os direitos dos povos, o respeito às culturas e às religiões
Dom Stephen Fumio Hamao, Presidente do Pontifício Conselho para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes:
Oremos para que na contemplação de Jesus, nosso Senhor e nossa Paz, os cristãos saibam arrepender-se das palavras e dos comportamentos que às vezes lhes foram sugeridos pelo orgulho, pelo ódio, pela vontade de domínio sobre os outros, pela inimizade para com os adeptos de outras religiões e grupos sociais mais débeis, como aqueles dos imigrantes e dos ciganos.
Oração em silêncio.

Santo Padre: Senhor do mundo, Pai de todos os homens, através do teu Filho tu nos pediste para amar o inimigo, para fazer o bem àqueles que nos odeiam e para rezar pelos nossos perseguidores. Muitas vezes, porém, os cristãos negaram o Evangelho e, cedendo à lógica da força, violaram os direitos de etnias e de povos, desprezando as suas culturas e suas tradições religiosas: mostra-te paciente e misericordioso conosco e perdoa-nos! Por Cristo nosso Senhor. R. Amém.

R. Kyrie, eleison; Kyrie, eleison; Kyrie, eleison. 
É acesa uma lâmpada diante do Crucifixo. 

VI. Confissão dos pecados que feriram a dignidade da mulher e a unidade do gênero humano
Cardeal Francis Arinze, Presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso:
Oremos por todos aqueles que foram ofendidos na sua dignidade humana e cujos direitos foram pisoteados; oremos pelas mulheres muitas vezes humilhadas e marginalizadas, e reconheçamos as formas de conivência das quais também os cristãos são culpados.
Oração em silêncio.

Santo Padre: Senhor Deus, nosso Pai, tu criaste o ser humano, o homem e a mulher, à tua imagem e semelhança e quiseste a diversidade dos povos na unidade da família humana; às vezes, todavia, a igualdade dos teus filhos não foi reconhecida, e os cristãos se tornaram culpados de atitudes de marginalização e de exclusão, consentindo com discriminações por motivo de raça e de etnia diversa. Perdoa-nos e conceda-nos a graça de curar as feridas ainda presentes na tua comunidade por causa do pecado, de modo que todos se sintam teus filhos. Por Cristo, nosso Senhor. R. Amém.

R. Kyrie, eleison; Kyrie, eleison; Kyrie, eleison. 
É acesa uma lâmpada diante do Crucifixo. 

VII. Confissão dos pecados no campo dos direitos fundamentais da pessoa
Dom François-Xavier Nguyen Van Thuan, Presidente do Pontifício Conselho Justiça e Paz:
Oremos por todos os seres humanos do mundo, especialmente pelos menores vítimas de abusos, pelos pobres, os marginalizados, os últimos; oremos pelos mais indefesos, os não-nascidos abortados no seio materno, ou mesmo utilizados para fins experimentais por quantos têm abusado das possibilidades oferecidas pela bio-tecnologia, distorcendo os propósitos da ciência.
Oração em silêncio.

Santo Padre: Deus, nosso Pai, que sempre escutas o grito dos pobres, quantas vezes os cristãos não te reconheceram em quem tem fome, em quem tem sede, em quem está nu, em quem é perseguido, em quem está preso, em quem está privado de toda possibilidade de autodefesa, sobretudo nos estágios iniciais da existência. Por todos aqueles que cometeram injustiças confiando na riqueza e no poder, e desprezando os «pequenos», particularmente queridos a ti, nós te pedimos perdão: tende piedade de nós e acolhe o nosso arrependimento. Por Cristo nosso Senhor. R. Amém.

R. Kyrie, eleison; Kyrie, eleison; Kyrie, eleison. 
É acesa uma lâmpada diante do Crucifixo. 

Oração conclusiva 
Santo Padre: Ó Pai misericordioso, teu Filho Jesus Cristo, juiz dos vivos e dos mortos, na humildade da primeira vinda resgatou a humanidade do pecado, e no seu glorioso retorno pedirá contas de toda culpa: aos nossos pais, aos nossos irmãos e a nós teus servos, que movidos pelo Espírito Santo retornamos a ti arrependidos de todo o coração, concede a tua misericórdia e a remissão dos pecados. Por Cristo nosso Senhor.
R. Amém.

O Santo Padre em sinal de penitência e de veneração abraça e beija o Crucifixo.


Fonte: Giornata del perdono - Presentazione / Preghiera Universale.

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