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terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Homilia do Papa: I Domingo do Advento - Ano A

Santa Missa pela comunidade congolesa em Roma e Itália
Homilia do Papa Francisco
Basílica Vaticana, Altar da Cátedra
Domingo, 01 de dezembro de 2019

Papa FranciscoBoboto [Paz]
AssembleiaBondeko [Fraternidade]
Papa FranciscoBondeko
AssembleiaEsengo [Alegria]
Nas leituras de hoje aparece várias vezes um verbo, vir, presente três vezes na primeira leitura, enquanto o Evangelho conclui dizendo que «o Filho do Homem virá» (Mt 24,44). Jesus vem: o Advento nos recorda esta certeza já em seu nome, porque a palavra advento significa vinda. O Senhor vem: eis a raiz da nossa esperança, a certeza de que entre as tribulações do mundo vem a nós a consolação de Deus, uma consolação que não é feita de palavras, mas de presença, da sua presença que vem a nós.
O Senhor vem; hoje, primeiro dia do Ano Litúrgico, este anúncio assinala o nosso ponto de partida: sabemos que, para além de qualquer acontecimento favorável ou contrário, o Senhor não nos deixa sozinhos. Veio há dois mil anos e virá ainda no final dos tempos, mas vem também hoje na minha vida, na sua vida. Sim, esta nossa vida, com todos os seus problemas, as suas angústias e as suas incertezas, é visitada pelo Senhor. Eis a fonte da nossa alegria: o Senhor não se cansa nem jamais se cansará de nós, deseja vit, visitar-nos.
Hoje o verbo vir não se conjuga apenas para Deus, mas também para nós. Com efeito, na 1ª leitura Isaías profetiza: «Virão numerosos povos e dirão: “Vinde, subamos ao monte do Senhor”» (2,3). Enquanto os males sobre a terra derivam do fato de que cada um segue o próprio caminho sem os outros, o profeta oferece uma visão maravilhosa: todos vêm juntos ao monte do Senhor. Sobre o monte estava o templo, a casa de Deus. Isaías nos transmite, pois, um convite da parte de Deus à sua casa. Somos os convidados de Deus, e quem é convidado é aguardado, desejado. “Vinde - diz o Senhor - porque na minha casa há lugar para todos. Vinde, porque no meu coração não há apenas um povo, mas todos os povos”.
Queridos irmãos e irmãs, viestes de longe. Deixastes vossas casas, deixastes vossos afetos e coisas queridas. Ao chegar aqui, encontraram acolhimento junto a dificuldades e imprevistos. Mas para Deus sois sempre convidados bem-vindos. Para Ele jamais somos estranhos, mas filhos esperados. E a Igreja é a casa de Deus: aqui, portanto, senti-vos sempre em casa. Aqui vimos para caminhar juntos rumo ao Senhor e realizar as palavras com as quais se conclui a profecia de Isaías: «Vinde, caminhemos na luz do Senhor» (v. 5).
Mas à luz do Senhor podem preferir-se as trevas do mundo. Ao Senhor que vem e ao seu convite de ir a Ele se pode responder com “não, não vou”. Muitas vezes não se trata de um “não” direto, ousado, mas encoberto. É o “não” do qual nos adverte Jesus no Evangelho, exortando-nos a não fazer como nos «dias de Noé» (Mt 24,37). O que aconteceu nos dias de Noé? Aconteceu que, enquanto algo de novo e impressionante estava para chegar, ninguém percebia, porque todos pensavam apenas em comer e beber (v. 38). Em outras palavras, todos reduziam a vida aos seus desejos, se contentavam com uma vida plana, horizontal, sem ímpeto. Não havia espera por alguém, somente a pretensão de ter algo para si, de consumir. Espera pelo Senhor que vem, e não pretensão de ter qualquer coisa para consumir. Isto é o consumismo.
O consumismo é um vírus que ataca a fé na raiz, porque te faz acreditar que a vida depende apenas daquilo que se tem, e assim te esqueces de Deus que vem ao teu encontro e que está ao teu lado. O Senhor vem, porém tu segues os apetites que te vêm; o irmão bate à tua porta, mas te incomodas porque perturba teus planos - e esta é a atitude egoísta do consumismo. No Evangelho, quando Jesus assinala os perigos para a fé, não se preocupa com os inimigos poderosos, as hostilidades e as perseguições. Tudo isto existiu, existe e existirá, mas não enfraquece a fé. O verdadeiro perigo, ao contrário, é aquele que anestesia o coração: é depender do consumo, é fazer-se “pesado” e dissipar o coração das necessidades (cf. Lc 21,34).
Agora se vive de coisas e não se sabe mais para que coisa; se têm tantos bens, mas não se faz mais o bem; as casas se enchem de coisas, mas se esvaziam de filhos. Este é o drama de hoje: casas cheias de coisas mas vazias de filhos, o inverno demográfico que estamos sofrendo. Perde-se tempo nos passatempos, mas não se tem tempo para Deus e para os outros. E quando se vive para as coisas, as coisas jamais saciam, a avidez cresce e os outros se tornam obstáculos na corrida e, assim, se acaba por sentir-se ameaçados e, sempre insatisfeitos e nervosos, se eleva o nível do ódio. “Eu quero mais, quero mais, quero mais...”. É o que vemos hoje onde o consumismo impera: quanta violência, mesmo que só verbal, quanta raiva e vontade de buscar um inimigo a todo custo! Assim, enquanto o mundo está cheio de armas que provocam mortos, não percebemos que continuamos a armar o coração de raiva.
Jesus quer despertar-nos de tudo isto. Fá-lo com um verbo: «Vigiai!» (Mt 24,42). “Ficai atentos, vigiai”. Vigiar era o trabalho do sentinela, que vigiava acordado enquanto todos dormiam. Vigiar é não ceder ao sono que envolve a todos. Para poder vigiar necessitamos ter uma esperança certa: que a noite não durará para sempre, que logo chegará a aurora. É assim também para nós: Deus vem e a sua luz iluminará até as trevas mais espessas. Mas a nós hoje cabe vigiar: vencer a tentação de que o sentido da vida é acumular - esta é uma tentação, o sentido da vida não é acumular -, a nós cabe desmascarar a mentira de que se é feliz quando se tem muitas coisas, resistir às luzes deslumbrantes do consumo, que brilharão por todos os lados neste mês, e acreditar que a oração e a caridade não são tempo perdido, mas os maiores tesouros.
Quando abrimos o coração ao Senhor e aos irmãos, chega o bem precioso que as coisas nunca podem nos dar e que Isaías anuncia na 1ª leitura: a paz. «transformarão suas espadas em arados e suas lanças em foices: não pegarão em armas uns contra os outros e não mais travarão combate» (Is 2,4). São palavras que nos fazem pensar também na vossa pátria. Hoje rezamos pela paz, gravemente ameaçada no leste do país, especialmente nos territórios de Beni e de Minembwe, onde irrompem os conflitos, alimentados também do exterior, no silêncio cúmplice de muitos. Conflitos alimentados por aqueles que se enriquecem vendendo as armas.
Hoje recordais uma figura belíssima, a Beata Marie-Clémentine Anuarite Nengapeta, violentamente assassinada, não antes de ter dito ao seu assassino, como Jesus: «Te perdoo, porque não sabes o que fazes!». Peçamos por sua intercessão que, em nome do Deus-Amor e com a ajuda das populações vizinhas, se renunciem às armas, por um futuro que não seja mais uns contra os outros, mas uns com os outros, e se se converta de uma economia que serve a guerra para uma economia que sirva a paz.
Papa Francisco: Quem tem ouvidos para ouvir...
Assembleia: Ouça!
Papa Francisco: Quem tem coração para consentir...
Assembleia: Consinta!


Tradução livre do original italiano.

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