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sexta-feira, 8 de novembro de 2019

XV Catequese do Papa sobre os Atos dos Apóstolos

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 06 de novembro de 2019
Atos dos Apóstolos (15)

Caros irmãos e irmãs, bom dia!
Continuamos nossa “viagem” com o livro dos Atos dos Apóstolos. Depois das provações vividas em Filipos, Tessalônica e Bereia, Paulo chegou a Atenas, bem no coração da Grécia (At 17,15). Esta cidade, que vivia à sombra de glórias antigas, apesar da decadência política, ainda mantinha o primado da cultura. Aqui o Apóstolo “treme interiormente ao ver a cidade cheia de ídolos” (At 17,16). Esse “impacto” com o paganismo, no entanto, em vez de fazê-lo fugir, empurra-o para criar uma ponte de diálogo com aquela cultura.
Paulo decide se familiarizar com a cidade e, assim, começa a frequentar os lugares e pessoas mais significativos. Vai à sinagoga, símbolo da vida de fé; vai à praça, símbolo da vida da cidade; e vai ao Areópago, símbolo da vida política e cultural. Encontra judeus, filósofos epicuristas e estoicos e muitos outros. Encontra as pessoas, não se fecha, vai conversar com todas as pessoas. Dessa maneira, Paulo observa a cultura, observa o ambiente de Atenas “a partir de um olhar contemplativo” que descobre “aquele Deus mora em suas casas, nas ruas e nas praças” (Evangelii Gaudium, 71). Paulo não olha para a cidade de Atenas e o mundo pagão com hostilidade, mas com os olhos da fé. E isso nos faz questionar nossa maneira de olhar nossas cidades: as observamos com indiferença? Com desprezo? Ou com a fé que reconhece os filhos de Deus no meio de multidões anônimas?
Paulo escolhe o olhar que o leva a abrir um caminho entre o Evangelho e o mundo pagão. No coração de uma das instituições mais famosas do mundo antigo, o Areópago, ele realiza um extraordinário exemplo de inculturação da mensagem de fé: ele anuncia Jesus Cristo aos adoradores de ídolos, e não o faz atacando-os, mas se tornando “pontífice, construtor de pontes” (Homilia em Santa Marta, 8 de maio de 2013).
Paulo toma como inspiração o altar da cidade dedicado a “um deus desconhecido” (At 17,23) - havia um altar escrito “ao deus desconhecido”; sem imagem, nada, apenas aquela inscrição. A partir dessa “devoção” ao deus desconhecido, para simpatizar com seus ouvintes, ele proclama que Deus “vive entre os cidadãos” (Evangelii Gaudium, 71) e “não se esconde daqueles que o procuram com um coração sincero, embora o façam tateando” (ibid.). É precisamente essa presença que Paulo procura revelar: “Aquele que, sem conhecê-lo, vocês adoram, eu o anuncio” (At 17,23).
Para revelar a identidade do deus que os atenienses adoram, o Apóstolo parte da criação, isto é, da fé bíblica no Deus da revelação, para alcançar a redenção e o julgamento, ou seja, a mensagem propriamente cristã. Ele mostra a desproporção entre a grandeza do Criador e os templos construídos pelo homem, e explica que o Criador se faz sempre buscar para que todos possam encontrá-lo. Dessa maneira, Paulo, de acordo com uma bela expressão do Papa Bento XVI, “anuncia Aquele a quem os homens desconhecem, mas ao mesmo tempo conhecem: o Desconhecido-Conhecido” (Bento XVI, Encontro com o mundo da cultura no Collège des Bernardins, 12 de setembro de 2008). Em seguida, ele convida todos a irem além dos “tempos da ignorância” e a decidir pela conversão em vista do julgamento iminente. Paulo chega assim ao kerygma e alude a Cristo, sem citá-lo, definindo-o como “o homem a quem Deus designou, dando a todos prova segura, ressuscitando-O dentre os mortos” (At 17,31).
E aqui está o problema. A palavra de Paulo, que até agora mantinha seus interlocutores com respiração suspensa - porque era uma descoberta interessante - encontra um obstáculo: a morte e a ressurreição de Cristo parecem “loucura” (1Cor 1,23) e suscitam a ridicularização e o escárnio. Paulo então se afasta: sua tentativa parece ter falhado e, em vez disso, alguns aderem à sua palavra e se abrem para a fé. Entre eles, um homem, Dionísio, um membro do Areópago, e uma mulher, Damaris. Também em Atenas, o Evangelho se enraíza e pode correr em duas vozes: a do homem e a da mulher!
Peçamos também hoje ao Espírito Santo que nos ensine a construir pontes com a cultura, com aqueles que não creem ou com aqueles que têm um credo diferente do nosso. Sempre construir pontes, sempre a mão estendida, sem agressão. Peçamos a Ele a capacidade de inculturar com delicadeza a mensagem de fé, colocando sobre os que estão na ignorância de Cristo um olhar contemplativo, movido por um amor que aquece até os corações mais endurecidos.


Fonte: Canção Nova

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