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sábado, 9 de novembro de 2019

Homilia: XXXII Domingo do Tempo Comum - Ano C

Santo Irineu de Lião
Tratado contra as heresias
Eu sou a ressurreição e a vida

Nosso Senhor e Mestre, na resposta que deu aos saduceus, que negam a ressurreição e que ainda afrontam a Deus violando a lei, confirma a realidade da ressurreição e depõe em favor de Deus, dizendo-lhes: Estais muito equivocados por não compreender as Escrituras nem o poder de Deus. E a respeito da ressurreição dos mortos - diz -, não lestes o que Deus disse: “Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó”? E acrescentou: Não é Deus de mortos, mas de vivos, porque para Ele estão todos vivos. Com estas palavras manifestou que Aquele que falou com Moisés na sarça e declarou ser o Deus dos pais é o Deus dos vivos.
E quem é o Deus dos vivos a não ser o único Deus, acima do qual não existe outro Deus? É o mesmo Deus anunciado pelo profeta Daniel, quando ao dizer-lhe Ciro, o persa: Por que não adoras Bel?, respondeu-lhe: Eu adoro o Senhor, meu Deus, que é o Deus vivo. Assim o Deus vivo adorado pelos profetas é o Deus dos vivos, e o é também a sua Palavra, que falou a Moisés, que refutou os saduceus, que nos concedeu o dom da ressurreição, mostrando aos que estavam cegos estas duas verdades fundamentais: a ressurreição e Deus. Se Deus não é Deus de mortos, mas de vivos, e, contudo, é chamado Deus dos pais, que já morreram, é incontestável que estão vivos para Deus e não pereceram: são filhos de Deus, porque participam da ressurreição.
E a ressurreição é nosso Senhor em pessoa, como Ele mesmo afirmou: Eu sou a ressurreição e a vida. E os pais são seus filhos; já o disse o profeta: em lugar de teus pais, são teus filhos. Portanto, o próprio Cristo é juntamente com o Pai o Deus dos vivos, que falou a Moisés e se manifestou aos pais.
Isto é o que, ensinando, dizia aos judeus: Abraão, vosso pai, pulava de alegria pensando em ver meu dia: o viu e se encheu de alegria. Como assim? Abraão creu em Deus e lhe foi creditado como justiça. Creu, em primeiro lugar, que Ele é o Criador do céu e da terra, o único Deus, e em segundo lugar, que multiplicaria sua descendência como as estrelas do céu. É o mesmo vocabulário de Paulo: Como luzeiros do mundo. Com razão, pois, abandonando todos os seus parentes terrenos, seguia o Verbo de Deus, peregrinando com o Verbo, para morar com o Verbo. Com razão os Apóstolos, descendentes de Abraão, deixando a barca e o pai, seguiam ao Verbo de Deus. Com razão também nós, abraçando a mesma fé que Abraão, carregando a cruz - como Isaac com a lenha - o seguimos.
Na verdade, em Abraão o homem aprendeu e se acostumou a seguir o Verbo de Deus. De fato, Abraão, favorecendo, em conformidade com a sua fé, o mandato do Verbo de Deus, consentiu oferecer em sacrifício a Deus seu unigênito e amado filho, para que também Deus concordasse no sacrifício de seu Filho Unigênito em favor de toda a sua posteridade, ou seja, por nossa redenção. Por isso Abraão, profeta como era, vendo em espírito o dia da vinda do Senhor e a economia da Paixão, pela qual ele mesmo e todos os que cressem como ele começariam a inaugurar a salvação, encheu-se de intensa alegria.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 750-751. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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