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sexta-feira, 18 de outubro de 2019

XII Catequese do Papa sobre os Atos dos Apóstolos

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 16 de outubro de 2019
Atos dos Apóstolos (12)

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
A jornada do Evangelho no mundo, que São Lucas relata nos Atos dos Apóstolos, é acompanhada pela suprema criatividade de Deus que se manifesta de maneira surpreendente. Deus quer que seus filhos superem todo particularismo para se abrir à universalidade da salvação. Este é o propósito: superar particularismos e abrir-se à universalidade da salvação, porque Deus quer salvar a todos. Aqueles que renascem da água e do Espírito - os batizados - são chamados a sair de si mesmos e abrir-se para os outros, a viver a proximidade, o estilo de viver juntos, que transforma todo relacionamento interpessoal em uma experiência de fraternidade (cf. Evangelii gaudium, 87)
Testemunha desse processo de “fraternização” que o Espírito deseja desencadear na história é Pedro, protagonista nos Atos dos Apóstolos com Paulo. Pedro vive um evento que marca um momento decisivo para sua existência. Enquanto ele está orando, ele recebe uma visão, uma “provocação” divina para suscitar nele uma mudança de mentalidade. Ele vê uma grande toalha de mesa que desce do céu contendo vários animais: quadrúpedes, répteis e pássaros, e ouve uma voz convidando-o a se alimentar dessas carnes. Ele, como um bom judeu, reage afirmando que nunca comeu nada impuro, conforme exigido pela Lei do Senhor (cf. Lv 11). Então a voz responde fortemente: “O que Deus purificou não chame de profano” (At 10,15)
Com esse fato o Senhor deseja que Pedro não valorize mais os eventos e as pessoas de acordo com as categorias dos puros e impuros, mas aprenda a ir além, a olhar para a pessoa e as intenções de seu coração. O que torna o homem impuro, de fato, não vem de fora, mas apenas de dentro, do coração (Mc 7,21). Jesus disse claramente.
Após a visão, Deus envia Pedro para a casa de um estrangeiro incircunciso, Cornélio, “centurião da corte chamada Itálica, […] religioso e temente a Deus”, que dá muitas esmolas ao povo e sempre ora a Deus (At 10,1-2), mas ele não era judeu.
Naquela casa de pagãos, Pedro prega o Cristo crucificado e ressuscitado e o perdão dos pecados a quem crê n’Ele. E enquanto Pedro fala, o Espírito Santo é derramado sobre Cornélio e sua família. E Pedro os batizou em nome de Jesus Cristo (At 10,48).
Esse fato extraordinário - é a primeira vez que acontece algo do gênero - torna-se conhecido em Jerusalém, onde os irmãos, escandalizados com o comportamento de Pedro, o repreendem asperamente (At 11,1-3). Pedro fez algo que foi além do costume, além da lei, e por isso eles o repreendem. Porém, após o encontro com Cornélio, Pedro está mais livre de si mesmo e mais em comunhão com Deus e com os outros, porque viu a vontade de Deus na ação do Espírito Santo. Ele pode, portanto, entender que a eleição de Israel não é a recompensa pelo mérito, mas o sinal do chamado gratuito para ser a mediação da bênção divina entre os povos pagãos.
Queridos irmãos, com o príncipe dos apóstolos aprendemos que um evangelizador não pode ser um impedimento à obra criativa de Deus, que “deseja que todos os homens sejam salvos” (1Tm 2,4), mas alguém que favorece o encontro dos corações com o Senhor. E como nos comportamos com nossos irmãos, especialmente aqueles que não são cristãos? Somos impedimento para o encontro com Deus? Obstruímos o encontro deles com o Pai ou o facilitamos?
Peçamos hoje a graça de deixar-se pasmar pelas surpresas de Deus, e não impedir sua criatividade, mas para reconhecer e favorecer os sempre novos caminhos pelos quais o Ressuscitado efunde o seu Espírito no mundo e atrai corações fazendo-se conhecido como o “Senhor de todos” (At 10,36). Obrigado.


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