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quarta-feira, 14 de agosto de 2019

V Catequese do Papa sobre os Atos dos Apóstolos

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 07 de agosto de 2019
Atos dos Apóstolos (5)

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Nos Atos dos Apóstolos, a pregação do Evangelho não se baseia apenas em palavras, mas também em ações concretas que dão testemunho da verdade do anúncio. São «prodígios e sinais» (At 2,43) que acontecem por obra dos Apóstolos, confirmando sua palavra e mostrando que atuam em nome de Cristo. Assim sucede que os Apóstolos intercedem e Cristo opera, agindo «junto com eles» e confirmando a Palavra com os sinais que a acompanham (Mc 16,20). Tantos sinais, tantos milagres que os Apóstolos realizaram foram precisamente uma manifestação da divindade de Jesus.
Hoje nos encontramos diante do primeiro relato de cura, diante de um milagre, que é o primeiro relato de cura no Livro dos Atos. Tem um claro propósito missionário, que aponta ao despertar da fé. Pedro e João vão rezar no Templo, centro da experiência de fé de Israel, ao qual os primeiros cristãos estão ainda muito apegados. Os primeiros cristãos rezavam no Templo de Jerusalém.
Lucas registra a hora: é a hora nona, ou seja, as três da tarde, quando o sacrifício era oferecido em holocausto como sinal da comunhão do povo com seu Deus; e também a hora em que Cristo morreu, oferecendo-se «uma vez para sempre» (Hb 9,12; 10,10). E à porta do Templo chamada «Formosa» - a Porta Formosa - vem um mendigo, um paralítico de nascença. Por que estava este homem na porta? Porque a lei mosaica (cf. Lv 21,18) impedia oferecer sacrifícios aos que tinham impedimentos físicos, considerados como consequência de certa culpabilidade. Recordemos que diante de um homem cego de nascença o povo perguntava a Jesus: «Quem pecou, ele ou seus pais, para que tenha nascido cego?» (Jo 9,2). De acordo com essa mentalidade, sempre há uma culpa na origem de uma má-formação. E, portanto, lhes era negado o acesso ao Templo. O aleijado, paradigma de muitos excluídos e descartados da sociedade, está aí para pedir esmola como todos os dias. Não podia entrar, mas estava na porta, quando algo inesperado acontece: Pedro e João chegam e se desencadeia uma troca de olhares. O aleijado olha para os dois para pedir esmola, enquanto os Apóstolos o olham fixamente, convidando-o a olhá-los de uma maneira diferente, para receber outro dom. O aleijado olha para eles e Pedro diz: «Não tenho ouro nem prata, mas o que tenho eu te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda!» (At 3,6). Os Apóstolos estabeleceram uma relação, porque assim é como Deus ama manifestar-se, na relação, sempre em diálogo, sempre nas aparições, sempre com a inspiração do coração: são as relações de Deus conosco; só através de um encontro real entre as pessoas pode acontecer o amor.
O templo, além de ser um centro religioso, era um lugar de intercâmbios econômicos e financeiros; os profetas e inclusive Jesus mesmo haviam advertido contra esta redução (cf. Lc 19,45-46). Porém quantas vezes penso nisto quando vejo uma paróquia onde se pensa que o dinheiro é mais importante que os sacramentos. Por favor! Igreja pobre: peçamos isto ao Senhor. Esse mendigo, encontrando aos Apóstolos, não encontra dinheiro mas sim o Nome que salva o homem: Jesus Cristo, o Nazareno. Pedro invoca o nome de Jesus, ordena ao paralítico que se coloque na posição dos vivos, de pé, e toca este enfermo, ou seja, o toma pela mão e o levanta, gesto em que São João Crisóstomo vê «uma imagem da ressurreição» (Homilia sobre os Atos dos Apóstolos, 8). E aqui aparece o retrato da Igreja, que vê quem está em dificuldade, não fecha os olhos, sabe olhar a humanidade na face para criar relações significativas, pontes de amizade e solidariedade em lugar de barreiras. Aparece o rosto de «uma Igreja sem fronteiras, que se sente mãe de todos» (Evangelii gaudium, n. 210), que sabe tomar pela mão e acompanhar para levantar, não para condenar. Jesus sempre estende a mão, sempre trata de nos levantar, de curar, de fazer felizes, de fazer encontrar a Deus. É a «arte do acompanhamento», que se caracteriza pela delicadeza com a qual alguém se aproxima da «terra sagrada do outro», dando ao nosso caminhar «o ritmo salutar da proximidade, com um olhar respeitoso e cheio de compaixão, mas que ao mesmo tempo cure, liberte e anime a amadurecer na vida cristã» (ibid., n. 169). E isto é o que estes dois Apóstolos fazem com o aleijado: o olham, dizem «olha para nós», se aproximam dele, o levantam e o curam. O mesmo faz Jesus conosco. Pensemos nisto quando estamos em maus momentos, em momentos de pecado, em momentos de tristeza. Aí está Jesus que nos diz: «Olha para mim: estou aqui!» Tomemos a mão de Jesus e deixemo-nos levantar.
Pedro e João nos ensinam a não confiar nos meios, que também são úteis, mas na verdadeira riqueza que é a relação com o Ressuscitado. Com efeito, somos – como diria São Paulo - «como pobres, mas enriquecendo muitos; como quem nada possui, mas tendo tudo» (2Cor 6,10). Todo nosso é o Evangelho, que manifesta o poder do nome de Jesus que faz maravilhas.
E nós: o que temos cada um de nós? Qual é nossa riqueza, qual é nosso tesouro? O que podemos fazer para enriquecer aos demais? Peçamos ao Pai o dom de uma memória agradecida ao recordar os benefícios do seu amor em nossas vidas, para dar a todos o testemunho de louvor e gratidão. Não esqueçamos: a mão sempre estendida para ajudar o outro a levantar-se; é a mão de Jesus que através da nossa mão ajuda os outros a levantar-se.


Tradução livre do texto espanhol no site da Santa Sé.

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