Páginas

sábado, 6 de julho de 2019

Homilia: XIV Domingo do Tempo Comum - Ano C

Santo Efrém
Diatessaron
Paz a esta casa

Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: Paz a esta casa, para que o próprio Senhor entre nela e se estabeleça, como na casa de Maria, e então lá se situem com seus discípulos como discípulos. Esta saudação é o mistério da fé que resplandece no mundo; por ela se extingue a inimizade, acaba a guerra e os homens se reconhecem mutuamente. O efeito desta mesma saudação estava dissimulado pelo véu do erro, apesar de ser prefigurado no mistério da ressurreição dos corpos, mistério expressado pelas coisas inanimadas, e quando sobrevém à luz e a aurora dissipa a noite. Desde aquele momento (do envio), os homens começaram a saudar-se reciprocamente, e a receber a saudação uns dos outros, para a provisão de quem a dá e bênção de quem a recebe. Destes, no entanto, que apenas recebem exteriormente a palavra de saudação, cujas almas não trazem a marca de membros de nosso Senhor, a saudação se difunde como uma luz transformada por aqueles que a recebem, assim como os raios de sol o são para a obra do mundo.
Esta saudação que o seu nome anuncia, da qual a ciência explica a potência oculta, e que constitui um símbolo, é suficiente para chegar, amplamente, a todos os homens. Eis porque nosso Senhor a enviou juntamente com os seus discípulos, qual precursor, para que restabeleça a paz, e envolta pela voz dos Apóstolos, seus enviados, prepare o caminho diante deles. Ela foi semeada em todas as casas para reunir e classificar os membros; entrava em todos aqueles que a escutavam, para separar e pôr à parte os filhos que reconhecia como seus. Permanecia neles, mas denunciava aos que lhe eram estranhos, porque, semeada nestes últimos, ela os abandonava.
Esta saudação não termina nunca, jorrando dos Apóstolos sobre os seus irmãos, para revelar que os tesouros que o Senhor enviava são inesgotáveis. Ela não se modificava naqueles que a acolhiam, demonstrando assim que os dons do doador eram estáveis e seguros. Presente tanto nos que a davam como nos que a acolhiam, este anúncio da paz não sofria nem diminuição nem divisão. Anunciava que o Pai está próximo de todos e em todos da missão do Filho, que está inteiramente em todos e que seu fim está junto ao seu Pai. Imagem do Pai, aquela saudação não cessa de pregar e de proclamar, até o advento da certeza de que se cumprem as imagens tipológicas, até quando a verdade não colocar fim às imagens e as sombras sejam repelidas pelo próprio corpo, e os símbolos dispersos pelas coisas que representam.
É assim, portanto, que nós lançamos as palavras do Senhor sobre os ouvintes e amigos, qual coalho para separar e unir, para separá-los e dissociá-los de toda mistura e uni-los ao Senhor que reúne a comunidade.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 672-673. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário