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sexta-feira, 31 de maio de 2019

I Catequese do Papa sobre os Atos dos Apóstolos

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 29 de maio de 2019
Atos dos Apóstolos (1)

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Iniciamos hoje um percurso de catequeses sobre o Livro dos Atos dos Apóstolos. Este livro bíblico, escrito por São Lucas Evangelista, no fala de viagem - de uma viagem: mas de qual viagem? Da viagem do Evangelho no mundo e nos mostra a maravilhosa união entre a Palavra de Deus e o Espírito Santo que inaugura o tempo da evangelização. Os protagonistas dos Atos são realmente um «casal» vivo e eficaz: a Palavra e o Espírito.
Deus «envia sobre a terra sua mensagem» e «sua Palavra corre veloz», diz o Salmo (147,4). A Palavra de Deus corre, é dinâmica, irriga cada terreno em que cai. E qual é a sua força? São Lucas nos diz que a palavra humana se torna eficaz não graças à retórica, que é a arte do belo discurso, mas graças ao Espírito Santo, que é a dýnamis de Deus, o dinamismo de Deus, a sua força, que tem o poder de purificar a palavra, de torná-la portadora de vida. Por exemplo, na Bíblia há histórias, palavras humanas; mas qual é a diferença entre a Bíblia e um livro de história? Que as palavras da Bíblia são tomadas do Espírito Santo, o qual dá uma força muito grande, uma força diversa e nos ajuda a fim de que a palavra seja semente de santidade, semente de vida, seja eficaz. Quando o Espírito visita a palavra humana essa se torna dinâmica, como «dinamite», capaz de acender os corações e de fazer saltar esquemas, resistências e muros de divisão, abrindo novos caminhos e expandindo os limites do povo de Deus. E isto veremos no percurso destas catequeses, no livro dos Atos dos Apóstolos.
Aquele que dá vibrante sonoridade e incisividade à nossa frágil palavra humana, capaz inclusive de mentir e escapar das próprias responsabilidades, é somente o Espírito Santo, por meio do qual o Filho de Deus foi gerado; o Espírito que o ungiu e sustentou em sua missão; o Espírito graças ao qual escolheu a seus Apóstolos e que garantiu ao seu anúncio a perseverança e a fecundidade, como as garante também hoje também ao nosso anúncio.
O Evangelho se conclui com a ressurreição e a ascensão de Jesus, e a trama narrativa dos Atos dos Apóstolos parte daqui, da superabundância da vida do Ressuscitado transfundida em sua Igreja. São Lucas nos diz que Jesus «a eles (...) se mostrou vivo, depois da sua paixão, com numerosas provas. Durante quarenta dias, apareceu-lhes falando do Reino de Deus» (At 1,3). O Ressuscitado, Jesus Ressuscitado, realiza gestos humaníssimos, como compartilhar a refeição com os seus, e os convida a viver confiantes a espera do cumprimento da promessa do Pai: «sereis batizados no Espírito Santo» (At 1,5).
O batismo no Espírito Santo, de fato, é a experiência que nos permite entrar em uma comunhão pessoal com Deus e participar em sua vontade salvífica universal, adquirindo o dom da parresía, a coragem, isto é, a capacidade de pronunciar uma palavra «como filhos de Deus», não só como homens, mas como filhos de Deus: uma palavra limpa, livre, eficaz, cheia de amor por Cristo e pelos irmãos.
Não é preciso lutar para ganhar ou merecer o dom de Deus. Tudo é dado gratuitamente e a seu tempo. O Senhor dá tudo gratuitamente. A salvação não se compra, não se paga: é um dom gratuito. Frente à ânsia de conhecer antecipadamente os tempos em que sucederão os eventos anunciados por Ele, Jesus responde aos seus: «Não vos cabe saber os tempos e os momentos que o Pai determinou com a sua própria autoridade. Mas recebereis o poder do Espírito Santo que descerá sobre vós, para serdes minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e na Samaria, e até os confins da terra» (At 1,7-8).
O Ressuscitado convida os seus a não viver com ansiedade o presente, mas a fazer aliança com o tempo, a saber esperar o desenlace de uma história sagrada que não foi interrompida, mas que avança, vai sempre adiante; a saber esperar os «passos» de Deus, Senhor do tempo e do espaço. O Ressuscitado convida os seus a não «fabricar» a missão por si mesmos, mas a esperar que seja o Pai a dinamizar os seus corações com o seu Espírito, para que possam envolver-se em um testemunho missionário capaz de irradiar-se de Jerusalém à Samaria e ir mais além das fronteiras de Israel para chegar às periferias do mundo.
Esta espera os Apóstolos a vivem juntos, a vivem como a família do Senhor, na sala superior, o Cenáculo, cujas paredes são testemunhas do dom com o qual Jesus se entregou aos seus na Eucaristia. E como aguardam a força, a dýnamis de Deus? Rezando com perseverança, como se não fossem tantos, mas um só. Rezando em unidade e com perseverança. É através da oração, de fato, que se vence a solidão, a tentação, a suspeita e se abre coração à comunhão. A presença das mulheres e de Maria, a mãe de Jesus, intensifica esta experiência: primeiro aprenderam do Mestre a dar testemunho da fidelidade do amor e a força da comunhão que vence todo temor.
Peçamos também nós ao Senhor a paciência de esperar seus passos, de não querer “fabricar” nós mesmos sua obra e de permanecer dóceis rezando, invocando o Espírito e cultivando a arte da comunhão eclesial.


Tradução livre do original italiano.

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