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quinta-feira, 23 de maio de 2019

Exageros de criatividade na Liturgia

24 de abril de 2019

No Sábado Santo, vivemos a Grande Vigília Pascal, também conhecida como a Mãe de todas as Vigílias. Cada momento da Liturgia desta noite, que é essencialmente batismal desde os primeiros séculos, nos leva a esta experiência de uma nova criação. Da criação do mundo, descrita no Livro do Gênesis, à noite de Páscoa com o batizado dos catecúmenos, com renovação das promessas do Batismo. Mas começamos falando do Sábado Santo, apenas para exemplificar a riqueza da Liturgia e o esmero de seu preparo.
A Liturgia, de fato, “é o lugar onde tudo isto se torna mais visível, mais sensível (...) é um lugar decisivo para o encontro, para a alegria do encontro com Jesus Cristo”, como nos disse o Bispo de Bragança-Miranda (Portugal), Dom José Manuel Cordeiro.
“O pão, o vinho, a água, o azeite, a nossa própria presença, as palavras, os gestos, todos os ritos, os símbolos que usamos na Liturgia”, devem nos remeter sempre para o invisível. A Liturgia, no fundo, tem este grande desafio: “fazer ver  o invisível, e até de ver a própria palavra (...). A Liturgia tem esta força de tornar possível o impossível.”
“A Liturgia não pode ser inventada (...), mas adaptada de acordo com as permissões e prescrições que se nos permitem pelas normas orientadas pela Santa Sé”, por meio da Congregação para o Culto e a Disciplina dos Sacramentos, como nos explica no programa de hoje, Padre Gerson Schmidt:
Os símbolos na Liturgia, além do que são próprios do ato litúrgico, precisam ser utilizados com moderação e ponderação, não de maneira exaustiva e intransigente. Na busca de tornar a Liturgia mais viva e mais participativa, se buscou demasiadamente inventar tantos símbolos, fazer acréscimos de para-liturgias que, ao invés de ajudarem, trazem mais confusão ou distorções, descentralizando-se do verdadeiro sentido do mistério pascal, da mesa do sacrifício eucarístico e da riqueza da Liturgia como tal.
Parece que a Liturgia por si só não fala nada, porque não a entendemos, e aí temos que completá-la com acréscimos demasiados, empanturrando a Liturgia de elementos desnecessários. Transformamos, por vezes, a celebração dominical, do Tempo Comum, numa esticada missa que nunca acaba.
Na Liturgia, parece que o critério do menos é ainda o melhor. Colocamos, por exemplo, 10 símbolos diversos na procissão do ofertório, quando não os colocamos igualmente já na procissão de entrada. E quando queremos dar destaque a tudo, nada fica, porque tudo se torna extremamente acentuado ou deturpado. A Liturgia já tem uma dinâmica própria e já possui seus símbolos próprios e profundos.
O símbolo deveria falar por si só. O símbolo que precisa ser muito explicado deixa de ser símbolo. Não precisamos reinventar uma nova Liturgia. Parece que a moda é uma criatividade exacerbada, desfocada da essência do mistério à custa de inovações, que ao invés de enriquecer, tantas vezes empobrecem o sentido mais profundo da ação sagrada.
É como a SC aponta: “Os próprios sinais sensíveis que a Liturgia usa para simbolizar as realidades divinas invisíveis foram escolhidos por Cristo ou pela Igreja” (SC, 33). Porque encher de outros tantos elementos outros? Não significa que não possa havê-los, mas que levem ao foco principal e não sejam dispersivos.
A ação de graças, outrossim, em muitas comunidades é sinônimo de apresentação teatral ou homenagens diversas, desfocando do verdadeiro da centralidade da refeição sagrada. Tantas vezes acontece uma indigestão litúrgica frente a tantos outros aspectos e novidades, que se quer trazer presentes, na boa intenção de melhor celebrar.
Outras vezes, encompridamos demasiadamente a Liturgia da Palavra e acabamos atropelando a Liturgia Eucarística, porque o tempo da primeira parte extrapolou. Enfim, há aqui muitas coisas que poderíamos elencar como avanços ou retrocessos, de acordo com a visão dos liturgistas. Sabemos que a Liturgia não pode ser inventada de acordo com nosso jeito, nosso gosto, nossa cara, mas adaptada de acordo com as permissões e prescrições que se nos permitem pelas normas orientadas pela Santa Sé, por meio da Congregação para o Culto e os Sacramentos.


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