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domingo, 21 de abril de 2019

Homilia: Domingo de Páscoa

Eusébio de Cesareia
Tratado sobre a solenidade da Páscoa
Todos os domingos celebramos nossa Páscoa

Os seguidores de Moisés imolavam o cordeiro pascal uma vez ao ano, no dia catorze do primeiro mês, ao entardecer. Nós, por outro lado, os homens da nova aliança, que todos os domingos celebramos nossa Páscoa, constantemente somos saciados com o corpo do Salvador, constantemente participamos do sangue do Cordeiro; constantemente trazemos cingida a cintura de  nossa alma com a castidade e a modéstia; constantemente nossos pés estão dispostos a caminhar segundo o Evangelho; constantemente temos o bastão na mão, e descansamos apoiados na vara que brota da raiz de Jessé; constantemente vamos nos afastando do Egito; constantemente buscamos a solidão da vida humana; constantemente caminhamos ao encontro com Deus; constantemente celebramos a festa da “passagem”, a Páscoa.
E a palavra evangélica quer que façamos tudo isso não somente uma vez ao ano, mas sempre, todos os dias. Por isso, todas as semanas, no domingo, que é o dia do Salvador, festejamos nossa Páscoa, celebramos os mistérios do verdadeiro Cordeiro pelo qual fomos libertados. Não circuncidamos com faca nosso corpo, mas amputamos a malícia da alma com o penetrante fio da palavra evangélica. Não tomamos ázimos materiais, mas unicamente os ázimos da sinceridade e da verdade. Pois a graça que nos dispensou dos antigos usos, entregou-nos o homem novo, criado segundo Deus, de uma nova lei, de uma nova circuncisão, de uma nova Páscoa, e daquele judeu que se é por dentro. Desta forma nos libertou do jugo dos tempos antigos.
Cristo, exatamente no quinto dia da semana, sentou-se a mesa com seus discípulos, e enquanto ceava, disse: Tenho desejado ardentemente comer esta Páscoa convosco antes de padecer. Na realidade, aquelas antigas Páscoas, ou melhor, antiquadas, que tinha comido com os judeus, não eram desejáveis; por outro lado, o novo mistério da nova aliança, que entregava aos seus próprios discípulos, com razão lhe era desejável, já que muitos profetas antigos e justos ansiaram ver os mistérios da nova aliança. Ainda mais, o próprio Verbo, ansiando ardentemente a salvação universal, lhes entregava o mistério e, que todos os homens iriam celebrar dali em diante, e declarava que ele mesmo a havia desejado.
A Páscoa mosaica não era realmente adequada para todos os povos, desde o momento em que estava ordenado de celebrá-la em um lugar único, ou seja, Jerusalém, razão pela qual ela não era desejável. Pelo contrário, o mistério do Salvador, que na nova aliança era adequado para todos os homens, com toda razão era desejável.
Em consequência, também nós devemos comer com Cristo a Páscoa, purificando nossas mentes de todo fermento de malícia, saciando-nos com os pães ázimos da verdade e da simplicidade, gerando na alma daquele judeu que é por dentro a verdadeira circuncisão, aspergindo as ombreiras de nossa alma com o sangue do Cordeiro imolado por nós, com o objetivo de afugentar ao nosso exterminador. E isto não só uma vez por ano, mas todas as semanas.
Nós celebramos ao longo do ano alguns mistérios semelhantes, comemorando com o jejum a Paixão do Salvador no sábado precedente, como primeiro o fizeram os Apóstolos quando lhes levaram o Esposo. Cada domingo somos vivificados com o santo Corpo de sua Páscoa de salvação, e recebemos na alma o selo de seu precioso sangue.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 591-592. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de Santo Efrém para este domingo clicando aqui.

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