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sábado, 30 de março de 2019

Homilia: IV Domingo da Quaresma - Ano C

São Gregório Magno
Sermão sobre o filho pródigo
“O filho pródigo recebeu o anel quando uniu a si, mediante a fé, a Igreja tirada da gentilidade”

Disse o pai a seus servos: Trazei depressa a primeira túnica para vestir meu filho. A primeira túnica é a veste abençoada da inocência, que nosso primeiro pai, Adão, recebeu, tendo sido criado com sabedoria pela mão de Deus, e depois a perdeu sendo enganado pelo demônio. E assim, após nossos primeiros pais terem pecado conheceram que estavam nus, e como pessoas que haviam perdido aquela glória da imortalidade, revestiram-se de peles de animais mortais. Pelos servos aos quais o Pai deu esta ordem, entendemos todos os santos pregadores: estes trouxeram a primeira veste, quando com sua santa doutrina não só converteram os homens, mas também mostraram claramente que, guardando a devida justiça em suas obras, seriam sublimados a tanta graça, que não seriam apenas cidadãos dos anjos, mas também herdeiros de Deus e co-herdeiros de Jesus Cristo.
E colocai o anel no seu dedo. Este é o costume que, com o anel, sejam seladas as coisas íntimas; e assim, pelo anel podemos entender o selo da fé, com a qual se selam no coração dos fiéis todas as coisas que da parte de Deus lhes são prometidas. Também é costume que a esposa confirme com um anel a fidelidade com seu esposo, e assim podemos entender por este anel a graça que Cristo nosso Redentor dá para a Igreja, sua Esposa. E diremos, então, que o filho pródigo recebeu o anel quando uniu a si, mediante a fé, a Igreja tirada da gentilidade. E com razão se põe o anel na mão, para mostrar que, com as obras, se confirmará a fé, e com a fé as obras.
E sandálias nos pés. Pelos sapatos entende-se o ofício da pregação, porque assim o afirma a Sagrada Escritura quando diz: Quão formosos são os pés dos mensageiros da paz, e que pregam o bem; e o glorioso Apóstolo confirmando isto, escrevendo de Éfeso, diz: Tende, irmãos, os pés calçados, e estai preparados para a pregação do Santo Evangelho. Diremos, pois, que voltando o filho pródigo à misericórdia do pai, adornam-lhe os pés e as mãos. Adornam-lhe as mãos para ensinar a nós e a todos os fiéis que vivamos com obras de justiça; e os pés para que, levando em consideração o exemplo dos santos, trabalhemos para caminhar ao céu.
Trazei um novilho gordo e matai-o. Por este novilho gordo entende-se o próprio Filho de Deus, Jesus Cristo, nosso Senhor e Redentor: porque na verdade, para a nossa alma, sua carne é de uma gordura e virtude espiritual de tão abundante graça, que se nos dispusermos a recebê-la, muito nos confortará no caminho em que peregrinamos, pois só ela foi capaz de apagar os pecados do mundo inteiro. Mandou, pois, trazer o novilho e matar-lhe, na mesma ocasião em que ordenou que os mistérios de sua vida santíssima e de sua Morte e Paixão fossem publicados pelos santos Apóstolos. Porque parece que este novilho santíssimo acabou de ser sacrificado para alguém, quando de novo volta a crer nele; e então é comido, quando é recebido sacramentalmente na alma limpa, quando se faz memória de sua Paixão com alma limpa.
Este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi encontrado. Deveis observar que disse “comamos”, falando em plural, por onde podemos entender que da carne santíssima deste novilho tão santo, não só come o filho que estava morto e reviveu, perdido e foi achado, mas também comeu o pai e os criados da casa. Nisto se vê que nossa conversão e saúde é a alegria do Pai celestial, e sua alegria é o perdão de nossos pecados. E este gozo não é só do Pai soberano, mas também do Filho e do Espírito Santo, porque a obra, a alegria e o amor da Santíssima Trindade é una.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 571-572. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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