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sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Homilia do Papa: Missa pelos Bispos falecidos (2018)

Santa Missa em sufrágio pelos Cardeais e Bispos falecidos durante o ano
Homilia do Papa Francisco
Basílica de São Pedro
Sábado, 03 de novembro de 2018

Ouvimos, na parábola do Evangelho, que as virgens «saíram ao encontro do noivo» (Mt 25,1): todas elas, as dez. Para todos, a vida é uma contínua chamada a sair: do ventre da mãe, da casa onde se nasceu, da infância para a juventude e da juventude para a idade adulta, até à saída deste mundo. E, para os ministros do Evangelho, a vida apresenta-se também em saída contínua: da casa de família para onde a Igreja nos envia, dum serviço para outro; estamos sempre de passagem, até à passagem final.

O Evangelho lembra-nos o sentido desta saída contínua que é a vida: ir ao encontro do noivo. Eis o objetivo para que se vive: para aquele anúncio que, segundo o Evangelho, ressoa durante a noite e que poderemos acolher plenamente no momento da morte: «Aí vem o noivo, ide ao seu encontro!» (v. 6). O que confere sentido e orientação à vida é o encontro com Jesus, Noivo que «amou a Igreja e Se entregou por ela» (Ef 5,25); nada mais. É o fim que projeta luz sobre aquilo que o precede. E, como a sementeira se avalia pela colheita, assim o caminho da vida se organiza a partir da meta.

Então, se é um caminho em saída para o noivo, a vida constitui o tempo que nos foi dado para crescer no amor. Viver é uma preparação diária para as núpcias, um grande namoro. Perguntemo-nos: Vivo eu como alguém que prepara o encontro com o noivo? No ministério, por trás de todos os encontros, das atividades a organizar e dos assuntos a tratar, não se deve esquecer o fio que une todo o enredo: a expetativa do noivo. O centro só pode ser um coração que ama o Senhor. Só assim o corpo visível do nosso ministério será sustentado por uma alma invisível. Assim se entende o que diz o apóstolo Paulo na segunda Leitura: «Não olhamos para as coisas visíveis, mas para as invisíveis, porque as visíveis são passageiras, ao passo que as invisíveis são eternas» (2Cor 4,18). Não nos fixamos nas dinâmicas terrenas; olhamos para além. É verdadeiro este famoso aforismo: «o essencial é invisível aos olhos». Na vida, o essencial é escutar a voz do noivo. Esta convida-nos a vislumbrar dia-a-dia o Senhor que vem e a transformar toda a atividade numa preparação para as núpcias com Ele.

Isto mesmo nos lembra o elemento que é essencial, no Evangelho, para as virgens à espera das núpcias: não o vestido, nem mesmo as lâmpadas, mas o azeite, guardado em pequenos vasos.

Eis uma primeira caraterística saliente deste azeite: não é vistoso. Permanece escondido, não se vê; mas, sem ele, não há luz. Que nos sugere isto? Que, diante do Senhor, não contam as aparências, conta o coração (cf. 1Sm 16,7). Aquilo que o mundo procura e ostenta - as honras, o poder, as aparências, a glória - passa, sem deixar qualquer vestígio. É indispensável afastar-se das aparências mundanas a fim de se preparar para o céu. É preciso dizer não à «cultura da maquiagem», que ensina a cuidar das aparências. Em vez disso, há que purificar e guardar o coração, o íntimo do homem, precioso aos olhos de Deus; não o exterior, que desaparece.

Depois desta primeira caraterística - não ser vistoso, mas essencial -, há um segundo aspecto do azeite: existe para ser consumido. Só queimando-se é que ilumina. De igual modo a vida: só irradia luz, se se consumir, se se gastar no serviço. O segredo para viver é viver para servir. O serviço é o bilhete que se deve exibir à entrada para as núpcias eternas. O que resta da vida, frente ao limiar da eternidade, não é o que ganhamos, mas o que demos (cf. Mt 6,19-21; 1Cor 13,8). O sentido da existência é responder à proposta de amor de Deus. E a resposta passa através do amor verdadeiro, do dom de si mesmo, do serviço. Servir custa, porque significa gastar-se, consumir-se; mas, no nosso ministério, não serve para viver quem não vive para servir. Quem guarda demais a sua vida, perde-a.

Uma terceira caraterística do azeite aparece de forma relevante no Evangelho: a preparação. O azeite deve ser preparado a tempo, e levado conosco (cf. Mt 25,4.7). O amor é, certamente, espontâneo, mas não se improvisa. É precisamente na falta de preparação que está a insensatez das virgens que ficaram fora das núpcias. Agora é o tempo da preparação: no momento presente, dia após dia, deve-se alimentar o amor. Peçamos a graça de renovar, cada dia, o nosso primitivo amor pelo Senhor (cf. Ap 2,4), de não o deixar apagar-se. A grande tentação é decair numa vida sem amor, que é como um vaso vazio, como uma lâmpada apagada. Se não se investe no amor, a vida apaga-se. Os chamados às núpcias com Deus não podem acomodar-se numa vida sedentária, calma e rasteira, que prossegue sem ímpeto, procurando pequenas satisfações e perseguindo reconhecimentos efémeros. Uma vida desleixada, rotineira, que se contenta com o cumprimento dos próprios deveres mas sem se doar, não é digna do Noivo.

Enquanto rezamos pelos Cardeais e Bispos falecidos durante o ano, peçamos a intercessão de quem viveu sem querer sobressair, de quem serviu do fundo do coração, de quem se preparou dia após dia para o encontro com o Senhor. A exemplo destas testemunhas que, graças a Deus, existem e são muitas, não nos contentemos com uma vista restrita ao dia de hoje; mas desejemos um olhar que se estenda mais além, para as núpcias que nos esperam. Uma vida, permeada pelo desejo de Deus e treinada no amor, estará pronta para entrar na morada do Noivo, e isso para sempre.


Fonte: Santa Sé.

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