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sábado, 7 de julho de 2018

Homilia: XIV Domingo do Tempo Comum - Ano B

Orígenes
Comentário sobre o Evangelho de São Mateus
Os milagres se cumpriram entre os crentes

A respeito da exclamação “De onde lhe vem toda esta sabedoria?”, ela mostra claramente a sabedoria superior e perturbadora das palavras de Jesus, que mereceu o elogio: Eis aqui quem é maior do que Salomão. E os milagres que realizou foram maiores do que os de Elias e Eliseu; até maiores que aqueles, mais antigos, de Moisés e de Josué, filho de Num. Murmuravam assombrados, sem saber que ele nasceu de uma virgem, e, mesmo que o tivesse dito, não teriam acreditado, enquanto supuseram que ele fosse o filho de José, o artesão: Não é ele o filho do carpinteiro?

E cheios de desprezo por todo aquele que poderia parecer sua parentela mais próxima, disseram: Sua mãe não se chama Maria, e seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas, e as suas irmãs não estão todas entre nós? E consideraram, portanto, que fosse filho de José e de Maria. Quanto aos irmãos de Jesus, alguns pretendem, apoiando-se no chamado “Evangelho segundo Pedro” ou no “Livro de Tiago”, que eles são os filhos de José, nascidos de uma primeira esposa que teve antes de Maria [1].

Os partidários desta teoria querem salvaguardar a crença na virgindade perpétua de Maria, não aceitando que aquele corpo, considerado digno de estar ao serviço daquela palavra que diz: O Espírito Santo descerá sobre ti, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra, conhecesse o leito de um homem, após ter recebido o Espírito de santidade e o poder descido do Alto, que a revestiu com a sua sombra. Da minha parte, penso que seria razoável ver em Jesus as primícias da castidade viril no celibato, e em Maria, as da castidade feminina. Realmente seria sacrílego atribuir a outra pessoa tal primícias da virgindade...

As palavras “E as suas irmãs não estão entre nós?” parecem-me ter o seguinte significado: a sabedoria deles é como a nossa, não aquela de Jesus; não há nada de estranho, de excepcional compreensão, como Jesus. É possível que, por estas palavras, surja uma dúvida quanto à natureza de Jesus, que não seria um homem, mas um ser superior, porque, mesmo sendo, como eles creem, filho de José e de Maria, e embora tendo quatro irmãos, inclusive algumas irmãs, não se parece a alguns de seus próximos, e, sem ter recebido instrução e sem mestres, alcançou tal grau de sabedoria e de poder.

Na verdade, eles disseram em outro lugar: Como ele faz para conhecer as Escrituras sem ter estudado? Está aqui um texto similar ao reportado. Contudo, aqueles que falavam deste modo, cheios de dúvidas e de surpresa, bem longe de acreditar, escandalizaram-se a seu respeito, como se os olhos de suas mentes fossem escravizados pelas forças das quais ele triunfaria sobre o lenho, na hora da sua Paixão...

Chegou o momento para esclarecer a passagem: Naquele lugar ele não fez muitos milagres por causa de sua incredulidade. Estas palavras nos ensinam que os milagres se cumpriram entre os crentes, porque se dará ao que tem e terá em abundância, enquanto que entre os incrédulos os milagres não somente não produziram efeito, mas, como escreveu Marcos: Não poderia fazê-lo. Muita atenção, de fato, a estas palavras: Não pode realizar nenhum milagre; realmente, não disse “não quis”, mas “não pode”, porque se agrega ao milagre que está para cumprir-se uma eficaz colaboração proveniente da fé daquele sobre o qual o milagre atua, e que a incredulidade impediria a ação. No caso de - é o caso de destacá-lo -, para aqueles que disseram: “Por que não podemos expulsá-lo?”, ele respondeu: “Por causa de vossa pouca fé”.


Nota:
[1] Essa interpretação baseada nos apócrifos não é mais aceita atualmente. Em hebraico os parentes próximos são chamados genericamente de “irmãos”. Portanto, o texto se refere provavelmente aos “primos” de Jesus.

Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 422-423. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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