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sábado, 27 de maio de 2017

Homilia: Ascensão do Senhor - Ano A

São Leão Magno
Tratado 74
 O que foi visível em nosso Redentor, passou para os ritos sacramentais

O mistério de nossa salvação, amadíssimos, que o Criador do universo abonou no preço de seu sangue, foi realizado segundo uma economia de humildade desde o dia de seu nascimento corporal até o término de sua Paixão. E ainda que sob a condição de servo irradiaram muitos sinais manifestativos de sua divindade, contudo, toda a atividade deste período esteve orientada propriamente para demonstrar a realidade da humanidade assumida. Apesar disso, depois da Paixão, rompidas as cadeias da morte que, ao recair n’Aquele que não conheceu o pecado perdera toda a sua malignidade, a debilidade se converteu em fortaleza, a mortalidade em eternidade, a ignomínia em glória, glória que o Senhor Jesus tornou manifesta diante de muitas testemunhas através de numerosas provas, até o dia em que introduziu nos céus o triunfo da vitória obtida sobre os mortos.
E assim como na solenidade da Páscoa a Ressurreição do Senhor foi para nós causa de alegria, assim também agora sua Ascensão ao céu é para nós um novo motivo de júbilo, ao recordar e celebrar liturgicamente o dia em que a pequenez de nossa natureza foi elevada, em Cristo, acima de todos os exércitos celestiais, de todas as categorias de anjos, de toda a sublimidade das potestades até compartir o trono de Deus Pai. Fomos estabelecidos e edificados por este modo de operar divino, para que a graça de Cristo se manifestasse mais admiravelmente, e assim, apesar da presença visível do Senhor ter sido afastada da vista dos homens – pela qual se alimentava o respeito deles para com Ele –, a fé se mantivesse firme, a esperança impassível e o amor ardente.
Nisto consiste, de fato, o vigor dos espíritos verdadeiramente grandes, isto é, o que a luz da fé realiza nas almas realmente fieis: crer sem vacilação o que nossos olhos não veem, ter o desejo fixo naquilo que nosso olhar não pode alcançar. Como esta piedade poderia nascer em nossos corações, ou como poderíamos ser justificados pela fé se a nossa salvação consistisse somente no que nos é dado ver? Por isso o Senhor disse àquela Apostolo que não cria na Ressurreição de Cristo enquanto não averiguasse com a vista e o tato, em sua carne, os sinais da Paixão: Crestes porque me vistes? Bem-aventurados os que creram sem terem visto.
Assim, para tornar-nos capazes, amadíssimos, de semelhante bem-aventurança, nosso Senhor Jesus Cristo, após ter realizado tudo o que convinha para a pregação evangélica e aos mistérios do Novo Testamento, quarenta dias após a Ressurreição, elevando-se ao céu à vista dos seus discípulos, findou a sua presença corporal para sentar-se à direita do Pai, até que se cumpram os tempos divinamente estabelecidos nos quais se multipliquem os filhos da Igreja, e Ele volte, na mesma carne com a qual ascendeu aos céus, para julgar os vivos e os mortos. Assim, todas as coisas referentes a nosso Senhor que antes eram visíveis, passaram a ser ritos sacramentais; e para que nossa fé fosse mais firme e valiosa, a visão foi substituída pela instrução, de maneira que, doravante, nossos corações, iluminados pela luz celestial, devem apoiar-se nesta instrução.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 109-110. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de São Máximo de Turim para esta Solenidade clicando aqui.

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