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sábado, 22 de abril de 2017

Homilia: II Domingo da Páscoa - Ano A

São Cirilo de Alexandria
Comentário sobre o Evangelho de São João
 Aqueles que desfrutam da presença de Cristo, é lógico que estejam tranquilos

Observa como Cristo, penetrando milagrosamente através das portas fechadas, demonstrou aos seus discípulos que era Deus por natureza, embora não fosse distinto daquele que anteriormente tinha convivido com eles; e, mostrando-lhes o seu lado e os sinais dos cravos, manifestou que o templo que pendeu da cruz e o corpo que nele tinha-se encarnado, Ele o tinha ressuscitado, depois de ter destruído a morte da carne, já que ele é a vida por natureza e Deus.
Agora, tem-se a impressão de que foi tão grande sua preocupação por deixar bem fundada a fé na ressurreição da carne que, apesar de ter chegado o tempo de transladar seu corpo a uma glória inefável e sobrenatural, quis, entretanto, aparecer-lhes por divina dispensação, tal e como era antes, e não chegassem a pensar que agora tinha um corpo distinto daquele que morrera na cruz. Que nossos olhos não são capazes de suportar a glória do santo corpo – supondo que Cristo quisesse manifestá-la antes de subir ao Pai – o compreenderás facilmente se lembrares aquela transfiguração operada anteriormente na montanha, na presença dos santos discípulos.
De fato, o evangelista São Mateus conta que Cristo, tomando consigo a Pedro, Tiago e João, subiu a uma montanha e ali se transfigurou diante deles; que seu rosto resplandecia como o sol e que suas vestes tornaram-se brancas como a neve; e que eles, não podendo suportar a visão, caíram de bruços.
Então, por um singular desígnio, nosso Senhor Jesus Cristo, antes de receber a glória que lhe era devida e conveniente ao seu templo já transfigurado, apareceu ainda em sua primitiva condição, não querendo que a fé na Ressurreição recaísse em outra forma e em outro corpo distinto daquele que tinha assumido da Santíssima Virgem, no qual igualmente tinha morrido crucificado, segundo as Escrituras, já que a morte só tinha poder sobre a carne, e até mesmo da carne tinha sido expulsa. Pois se o seu corpo morto não ressuscitou, onde está a vitória sobre a morte?
Ou, como podia acessar o império da corrupção, a não ser mediante uma criatura racional, que tivesse passado pela experiência da morte? Por certo, não mediante uma alma ou um anjo, nem sequer por mediação do próprio Verbo de Deus. E como a morte somente obteve poder sobre o que por natureza é corruptível, sobre isso mesmo é justo pensar que devia empregar-se toda a virtualidade da Ressurreição para destruir o tirânico poder da morte.
Portanto, todo aquele que tenha um pouco de sentido comum contará entre os milagres do Senhor aquele que entrasse na casa estando as portas fechadas. Saúda, pois, aos discípulos com estas palavras: A paz esteja convosco, designando-se a si mesmo com o nome de “paz”. Realmente, aos que exatamente o que Paulo desejava aos fieis, dizendo: E a paz de Cristo, que ultrapassa todo julgamento, guarde vossos corações e vossos pensamentos. E a paz de Cristo, que ultrapassa todo julgamento, diz não ser outra que seu Espírito, o qual transborda de todo tipo de bens a quem dele participar.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 92-93. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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