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domingo, 16 de abril de 2017

Homilia: Domingo de Páscoa

Santo Hipólito de Roma
Sermão VI na Páscoa
 Ó mística liberalidade! Ó Páscoa divina!

Já brilham os raios da sagrada luz de Cristo, já aparecem às puras luminárias do Espírito puro, que nos abrem os tesouros da glória celeste e da régia divindade. Dissipou-se a densa e sombria noite, e a odiosa morte foi relegada à obscuridade; brinda-se a todos a vida, tudo transborda de luz imutável, e os que estão nascendo entram em posse do universo dos renascidos. E Aquele nascido antes da aurora, grande e imortal, Cristo, resplandece para todos mais que o sol. Por isso, n’Ele alvoreceu para os crentes um dia resplandecente, interminável, eterno, a Páscoa mística, já prefigurada e celebrada pela Lei; a Páscoa, obra admirável da força e do poder da divindade, é realmente a festa e o memorial legítimo e sempiterno; é a passagem da paixão para a impassibilidade, da morte para a imortalidade, da juventude para a maturidade; é a cura após a ferida, ressurreição após a queda, ascensão após a descida. É assim que Deus realiza grandes coisas, assim é como do impossível cria coisas admiráveis, para demonstrar que Ele é o único que pode tudo o que quer.
E assim, fazendo uso de seu régio poder, rompe, após a vida, os vínculos da morte, como quando gritou: Lázaro, vem para fora, ou Menina, levanta-te, demonstrando a eficácia de seu poder. Por isso se entregou totalmente à morte: para matar em si mesmo a essa fera voraz e desfazer o nó insolúvel. Naquele corpo impecável, a morte buscava incansavelmente os manjares que lhe são próprios: procurava ver se havia nele sensualidade, ira, desobediência; se havia finalmente pecado, que é o alimento preferido da morte: O aguilhão da morte é o pecado. Mas, como nada encontrava nele do que alimentar-se, prisioneira de si mesma e extenuada por falta de alimento, ela mesma foi sua própria morte, tal como muitos justos vinham anunciando e profetizando que aconteceria quando o Primogênito ressuscitasse dentre os mortos. Ele realmente permaneceu três dias debaixo da terra, para salvar em si mesmo o gênero humano, inclusive aos que existiram antes da Lei.
As mulheres foram as primeiras a ver o ressuscitado. Para que assim como foi uma mulher que introduziu no mundo o primeiro pecado, a mulher fosse também a primeira em anunciar ao mundo a vida. Por isso as mulheres ouvem a voz sagrada, alegrai-vos, para que a dor primeira fosse suplantada pela alegria da Ressurreição; e para que os incrédulos cressem na sua Ressurreição corporal dentre os mortos. Quando teve transformado em homem celestial a imagem inteira do homem velho que tinha assumido, então subiu ao céu levando consigo aquela imagem desta forma transformada. E vendo as potências angélicas àquele magnífico mistério de um homem que ascendia juntamente com Deus, receberam alegres a missão de gritar aos exércitos celestiais: Portões! Erguei os frontões, que se ergam as antigas comportas: o Rei da glória vai entrar!
E elas, por sua vez, vendo um novo milagre, ou seja, a um homem unido a Deus, gritam e dizem: Quem é esse Rei da glória? E as potências angélicas interrogadas voltam a contestar: O Senhor dos exércitos! Ele é o Rei da glória, o herói valoroso, o herói da guerra!
Ó mística liberalidade! Ó espiritual solenidade! Ó Páscoa divina, que descendo do céu à terra e de novo ascende a partir da terra! Ó Páscoa, nova iluminação das lâmpadas, decoro virginal das candeias! Por isso, já não se extinguem as lâmpadas das almas, porque por um efeito divino e espiritual em todos é visível o fogo da graça, alimentado pelo corpo, o espírito e o óleo de Cristo.
Portanto, te rogamos, Senhor Deus, Cristo, Rei espiritual e eterno, que estendas tuas mãos poderosas sobre tua santa Igreja e sobre o teu povo santo, defendendo-o, guardando-o e conservando-o sempre. Exibe agora teus troféus em nosso favor, e concede-nos a graça de poder cantar com Moisés o canto da vitória, porque tua é a glória e o império pelos séculos dos séculos. Amém.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 88-90. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de Orígenes para este domingo clicando aqui.

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