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quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Homilia do Papa nas Vésperas com o Arcebispo de Canterbury

Celebração das Vésperas com a participação de Sua Graça Justin Welby, Arcebispo de Canterbury e Primaz da Comunhão Anglicana
Discurso do Santo Padre
Igreja dos Santos André e Gregório al Celio
Quarta-feira, 5 de outubro de 2016

O profeta Ezequiel, com uma imagem eloquente, descreve Deus como Pastor que reúne as suas ovelhas tresmalhadas, que se tinham separado umas das outras «num dia de nuvens e de trevas» (Ez 34, 12). Desta forma, hoje parece que o Senhor nos transmite, através do profeta, uma dupla mensagem. Em primeiro lugar, de unidade: Deus, como Pastor, quer a unidade do seu povo e deseja sobretudo que os Pastores se dediquem a isto. Depois, foi-nos dito o motivo das divisões do rebanho: em dias de nuvens e de trevas, perdemos de vista o irmão que estava ao nosso lado, tornando-nos incapazes de nos reconhecer e nos alegrar pelos nossos respectivos dons e pela graça recebida. Isto aconteceu porque se adensaram ao nosso redor as trevas da incompreensão e da suspeita e, acima de nós, as nuvens escuras das divergências e das controvérsias que se formaram muitas vezes por razões históricas e culturais e não só por motivos teológicos.
Mas temos a firme certeza de que Deus ama permanecer entre nós, seu rebanho e tesouro precioso. Ele é um Pastor incansável, que continua a agir (cf. Jo 5, 17), exortando-nos a caminhar para uma unidade maior, que só pode ser alcançada com a ajuda da sua graça. Portanto, tenhamos confiança, porque em nós, embora sejamos frágeis vasos de barro (cf. 2 Cor 4, 7), Deus ama derramar a sua graça. Ele está convicto de que podemos passar das trevas para a luz, da dispersão para a unidade, da carência para a plenitude. Este caminho de comunhão é o percurso de todos os cristãos e é a vossa particular missão, como Pastores da Comissão internacional anglicano-católica para a unidade e a missão.
Trabalhar como instrumentos de comunhão sempre e em toda a parte é uma grande chamada. Isto significa promover ao mesmo tempo a unidade da família cristã e a unidade da família humana. Estes dois âmbitos não só não se opõem mas enriquecem-se reciprocamente. Quando, como discípulos de Jesus, oferecemos o nosso serviço de maneira conjunta, uns ao lado dos outros, e promovemos a abertura e o encontro, derrotando a tentação dos fechamentos e isolamentos, agimos contemporaneamente a favor da unidade quer dos cristãos quer da família humana. Assim, reconhecemo-nos como irmãos que pertencem a tradições diversas, mas que são impelidos pelo mesmo Evangelho a empreender a mesma missão no mundo. Então, seria sempre bom, antes de iniciar alguma atividade, que vos formuleis estas perguntas: por que não fazemos isto junto com os nossos irmãos anglicanos? Podemos testemunhar Jesus agindo em conjunto com os nossos irmãos católicos?
Quando partilhamos concretamente as dificuldades e as alegrias do ministério é que nos aproximamos uns dos outros. Que Deus vos conceda ser promotores de um ecumenismo audaz e real, sempre a caminho procurando abrir novas sendas, das quais beneficiarão antes de tudo os vossos irmãos nas Províncias e nas Conferências Episcopais. Trata-se sempre e antes de tudo de seguir o exemplo do Senhor, a sua metodologia pastoral, que o profeta Ezequiel nos recorda: procurar a ovelha que se perdeu, reconduzi-la ao redil, cuidar da ovelha ferida e da doente (cf. v. 16). Só assim se reúne o povo desagregado.
Gostaria de me referir ao nosso caminho comum no seguimento de Cristo Bom Pastor, tomando como modelo o báculo do pastor de são Gregório Magno, que poderia simbolizar o grande significado ecuménico deste nosso encontro. Aqui também o Papa Gregório escolheu e enviou Santo Agostinho de Canterbury e os seus monges anglo-saxões, inaugurando uma grande página de evangelização, que é a nossa história comum e nos une de maneira inseparável. Portanto, é justo que este pastoral seja um símbolo partilhado do nosso caminho de unidade e missão.
No centro da parte curva do pastoral está representado o Cordeiro Ressuscitado. De tal modo, enquanto nos recorda a vontade do Senhor de reunir o rebanho e de ir à procura da ovelha tresmalhada, o pastoral indica-nos também o conteúdo principal do anúncio: o amor de Deus em Jesus Crucificado e Ressuscitado, Cordeiro imolado e vivo. É o amor que penetrou a escuridão do túmulo selado e abriu de par em par as portas à luz da vida eterna. O amor do Cordeiro que venceu o pecado e a morte é a verdadeira mensagem inovadora que devemos anunciar juntos aos tresmalhados de hoje e a quantos ainda não sentiram a alegria de conhecer a face compassiva e o abraço misericordioso do Bom Pastor. O nosso ministério consiste em iluminar as trevas com esta luz gentil, com a força inerme do amor que vence o pecado e supera a morte. Sentimos a alegria de reconhecer e celebrar juntos o coração da fé. Voltemos a centrar-nos nisto, sem nos deixar distrair por quanto, incitando-nos a seguir o espírito do mundo, deseja desviar-nos da novidade originária do Evangelho. Disto brota a nossa responsabilidade comum, a única missão de servir o Senhor e a humanidade.
Também alguns autores evidenciaram que os báculos pastorais, do extremo oposto, possuem muitas vezes uma ponta. Podemos pensar que o pastoral não recorda só a chamada a conduzir e reunir as ovelhas em nome do Crucificado Ressuscitado mas também impelir aquelas que tendem a permanecer demasiado paradas e fechadas, exortando-as a sair. A missão dos Pastores é ajudar o rebanho a eles confiado, para que se mantenha em saída, em movimento ao anunciar a alegria do Evangelho; não fechados em círculos restritos, em «microclimas» eclesiais que nos levariam a dias de nuvens e trevas. Juntos peçamos a Deus a graça de imitar o espírito e o exemplo dos grandes missionários, através dos quais o Espírito Santo revitalizou a Igreja, que se reanima quando sai de si mesma para viver e anunciar o Evangelho pelas estradas do mundo. Pensemos no que aconteceu em Edimburgo, nas origens do movimento ecuménico: foi precisamente o fogo da missão que permitiu dar início à superação das barreiras e ao abatimento de cercas que nos isolavam e tornavam impensável um caminho comum. Rezemos juntos por isto: que o Senhor nos conceda que daqui surja um renovado impulso de comunhão e de missão.


Fonte: Santa Sé

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