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sexta-feira, 24 de junho de 2016

Homilia: XIII Domingo do Tempo Comum – Ano C

 Santo Agostinho
Sermão 100
A renúncia”

Escutai o que Deus me inspirou sobre este capítulo do Evangelho: nele se lê como o Senhor se comportou distintamente com três homens. A um que se ofereceu para segui-lo o rejeitou; a outro que não se atrevia o animou; por fim a um terceiro que o retardava o censurou.
Quem mais disposto, mais resoluto, mais decidido diante de um bem excelente como é seguir ao Senhor aonde quer que vá do que aquele que disse: Senhor, te seguirei aonde quer que vá? Cheio de admiração tu perguntas: Como isto? Como desagradou ao bom mestre, nosso Senhor Jesus Cristo, que vai em busca de discípulos para dar-lhes o Reino dos Céus, homem tão bem disposto? Como se tratava de um mestre que previa o futuro, entendemos que este homem, meus irmãos, se tivesse seguido a Cristo, teria buscado o próprio interesse e não o de Jesus Cristo. Pois o próprio Senhor disse: Nem todo o que me diz “Senhor, Senhor” entrará no Reino dos Céus.
Este era um deles; não se conhecia a si mesmo como o conhecia o médico que o examinava. Porque sabendo-se mentiroso, reconhecendo-se falaz e simulado, não conhecia a quem falava. Pois ele é de quem diz o evangelista: Não necessitava que ninguém lhe informasse a respeito deles, pois ele sabia o que há no interior do homem. E o que lhe respondeu? As raposas têm tocas e os pássaros do céu ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça. Mas onde não tem? Em tua fé. As raposas têm esconderijos em teu coração: és falaz. As aves têm ninhos em teu coração: és soberbo. Sendo mentiroso e soberbo não podes me seguir. Como pode a duplicidade seguir a simplicidade?
Porém, ao outro que está sempre calado, que não diz nada e nada promete, lhe diz: Segue-me. Quanto era o mal que via no outro, tanto era o bem que via neste. Ao que não quer lhe diz: Segue-me. Tens um homem disposto – te seguirei aonde quer que vá – e dizes segue-me a quem não quer seguir-te. “A este, ele diz, o excluo porque vejo nele tocas, vejo nele ninhos”. Mas por que incomodas a este que convidas e se desculpa? Veja que o estimulas e não vem, lhe rogas e não te segue, pois o que diz? Irei primeiro enterrar o meu pai. Mostrava ao Senhor a fé de seu coração, mas lhe retinha a piedade. Quando nosso Senhor Jesus Cristo destina os homens ao Evangelho, não quer que se interponha desculpa alguma de piedade carnal e temporal. Certamente a lei ordena esta ação piedosa, e o próprio Senhor acusou os judeus de desprezar este mandamento de Deus. Também São Paulo diz em sua carta: Este é o primeiro mandamento acompanhado de promessa. Qual? Honra o teu pai e a tua mãe. Não existe dúvida de que é mandamento de Deus.
Este jovem queria, portanto, obedecer a Deus sepultando ao seu pai. Mas existem lugares, tempos e assuntos apropriados a este assunto e a este lugar. Há de honrar-se ao pai, mas deve-se obedecer a Deus; deve-se amar ao progenitor, mas deve-se dar preferência ao Criador. “Eu, diz Jesus, te chamo ao Evangelho; chamo-te para outra obra mais importante do que aquela que tu queres fazer”.
Deixa que os mortos enterrem os seus mortos. Teu pai está morto. Existem outros mortos que podem enterrar os mortos. Quem são os mortos que sepultam os mortos? Pode ser enterrado um morto por outros mortos? Como lhe amortalhão se estão mortos? Como transportarão o cadáver se estão mortos? Como chorarão por ele se estão mortos?  Amortalham, o levam para enterrar e o choram apesar de estarem mortos, porque aqui se trata dos infiéis.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 669-670. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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