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sábado, 23 de abril de 2016

Homilia: V Domingo da Páscoa - Ano C

São João Crisóstomo
Sermão 72 sobre o Evangelho de João
A caridade constitui o sinal de toda santidade

Um novo mandamento vos dou. Sendo verossímil que eles após ouvir estas coisas se perturbassem, como se fossem ficar completamente abandonados, Jesus os consola e os fortifica para sua segurança com aquilo que é a raiz de todos os bens: a caridade. Como se lhes dissesse: “Vos entristeceis porque eu me vou? Pois se vos amais uns aos outros, sereis ainda mais fortes”. Porém, por que não lhes disse com estas palavras? Porque o fez dizendo-lhes outra coisa, que era muito mais útil: Nisto conhecerão que sois meus discípulos. Isto significa que seu grupo jamais se dissolveria, uma vez que Ele lhes tinha dado o sinal distintivo para se conhecerem. E o disse quando o traidor já se havia afastado deles.
Por que chama novo este mandamento? Pois ele já estava presente no Antigo Testamento. O fez novo pelo modo como o ordenou. Pois que o propôs dizendo: assim como eu vos amei. Eu não paguei vossa dívida por méritos anteriores que vós tivésseis; mas eu fui o que começou. Pois bem, do mesmo modo convém que vós façais o bem aos vossos amigos, sem que tenham dívida alguma com vós. Supondo por um lado os milagres que realizariam, coloca sobre eles como distintivo a caridade.
Por que motivo? Porque ela é antes de tudo indício e argumento dos santos, já que ela constitui o sinal de toda santidade. É principalmente por ela que alcançamos a salvação. Como se lhes dissesse: “nela consiste ser meu discípulo. Por ela todos vos louvarão, quando vejam que imitais a minha caridade”. Mas então não são principalmente os milagres que distinguem os discípulos? De forma alguma: Muitos me dirão: Senhor, não foi em teu nome que expulsamos demônios? E quando os discípulos se alegravam de que até os demônios os obedeciam, lhes disse: Não vos alegreis de que os demônios se vos submetem, mas de que vossos nomes estão inscritos no céu. Foi a caridade que a atraiu para o mundo, pois os milagres já se realizavam antes. Ainda que sem estes tampouco aquela poderia subsistir.
A caridade cedo os tornou bons e virtuosos e que tivessem um só coração e uma só alma. Se houvessem desavenças entre eles mesmos, tudo se teria arruinado. E Jesus não disse isto unicamente para eles, mas para todos os que depois haveriam de crer. E ainda agora nada escandaliza tanto aos infiéis como a falta de caridade. Dirá que também nos censuram porque já não há milagres. Porém, não põem nisto tanta força.
Em que manifestaram sua caridade os apóstolos? Não vês a Pedro e João que nunca se separaram e como sobem ao templo? Não vês que atitude Paulo observa para com eles? E ainda duvidas? Estiveram dotados de outras virtudes, mas muito mais o estiveram daquela que é a mãe de todos os bens. Ela germina em toda alma virtuosa assim que começa; mas aonde há perversidade, prontamente murcha: quando abunda a maldade, se esfriará a caridade de muitos.
Certamente aos gentios não os movem tanto os milagres como a vida virtuosa. E nada torna a vida tão virtuosa como a caridade. Aos que fazem milagres com frequência são tidos como enganadores; porém, nunca podem repreender uma vida virtuosa. No início, quando a pregação ainda não se tinha estendido tanto, com todo direito os gentios admiravam os milagres; mas agora convém que sejamos admiráveis pelo nosso modo de viver.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 605-606. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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