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sexta-feira, 25 de março de 2016

Homilia: Celebração da Paixão do Senhor

 São Cirilo de Alexandria
Comentário ao Evangelho de São João
Nós somos sacrificados com Cristo

Jesus tomou a cruz sobre si e saiu para o lugar chamado “Calvário”, em hebraico, “Gólgota”. Ali o crucificaram.
Conduzem à morte justamente o Autor da vida! Mas sua paixão, que tinha por meta a nossa salvação, acabaria por ter – por virtude divina e graças a um desígnio providencial que supera em muito nossa compreensão – um resultado diametralmente oposto ao que imaginavam os judeus. Na realidade, a paixão de Cristo era algo assim como um laço estendido ao poder da morte, visto que a morte do Senhor era o princípio e a fonte da incorruptibilidade e da novidade da vida.
Mesmo assim, ele avança levando sobre seus ombros aquele madeiro sobre o qual iria ser crucificado, estando já condenado à sentença capital, mesmo sendo completamente inocente.  E isso por nossa causa! Realmente assumiu sobre si as penas com a qual a justiça procedente da lei ameaça aos pecadores, tornando-se um maldito por nós, porque diz a Escritura: Maldito todo aquele que for suspenso do madeiro. E malditos éramos todos nós, nós que nos negávamos a obedecer a lei divina. Na realidade, todos havíamos pecado muito. E por nossos pecados foi tido por maldito quem não conheceu o pecado, para libertar-nos da antiga maldição. Bastava, de fato, que por todos padecesse um só, o qual, sendo Deus, está acima de todos: com a morte de seu corpo, procurou a salvação de todos os homens.
Cristo, pois, levou a cruz que certamente nós merecíamos, e não ele, se temos em conta a condenação da lei. De fato, assim como andou entre os mortos – não por ele, mas por nós, para reconduzir-nos à vida eterna, uma vez destruído o império da morte –, assim também carregou a cruz que correspondia-nos, condenando em si mesmo a condenação derivada da lei. Portanto, daqui em diante todos os iníquos fecharão a boca, como cantamos no Salmo 106,42, porque o inocente morreu pelos pecados de todos.
Ainda mais: deste comportamento de Cristo podemos tirar muitos motivos para estimular-nos a empreender com uma maior decisão a vida de santidade. Não chegaremos realmente à perfeição e à total decisão com Deus, a não ser antepondo seu amor à vida terrena, e propondo-nos lutar corajosamente pela verdade, tal como nos exortam inclusive as circunstâncias atuais.
Belamente o expressou nosso Senhor Jesus Cristo: O que não carrega a sua cruz e não me segue, não é digno de mim. Em efeito, tomar a cruz significa, conforme creio, nem mais nem menos que renunciar ao mundo por ele e preterir – chegada a ocasião – a vida corporal aos bens que esperamos, desde o momento em que nosso Senhor Jesus Cristo não se envergonha de levar a cruz, e de sofrer por nosso amor.
Assim sendo, os que seguem a Cristo estão também crucificados com ele: morrendo à sua antiga conduta, são introduzidos em uma vida nova conforme ao evangelho. Por isso dizia Paulo: Os que são de Cristo Jesus crucificaram sua carne com suas paixões e concupiscências. E novamente, como que falando de si, diz a todos: Na realidade, pela fé eu morri para a lei, a fim de viver para Deus. Estou crucificado com Cristo: Já não sou eu que vivo, mas Cristo que vive em mim. E aos colossenses lhes disse: Se morreis com Cristo aos elementos do mundo, por que vos submeteis às regras como se ainda vivêsseis sujeitos ao mundo?
De fato, a morte do elemento mundano que há em nós nos introduz na conversão e na vida de Cristo.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 582-584. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de São Romanos, o Melode, para esta celebração clicando aqui.

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