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quinta-feira, 17 de março de 2016

Ângelus: V Domingo da Quaresma - Ano C

Papa Francisco
Ângelus
V Domingo da Quaresma, 13 de março de 2016

Amados irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho deste V Domingo da Quaresma (Jo 8,1-11) é tão bonito, eu gosto muito de lê-lo e relê-lo. Apresenta o episódio da mulher adúltera, frisando o tema da misericórdia de Deus, que nunca deseja a morte do pecador, mas que se converta e viva. O episódio tem lugar na esplanada do Templo. Imaginai-a ali, no adro [da Basílica de São Pedro]. Jesus está ensinando à multidão, e eis que chegam alguns escribas e fariseus que arrastam diante d’Ele uma mulher surpreendida em adultério. Assim, aquela mulher encontra-se no meio entre Jesus e a multidão (v. 3), entre a misericórdia do Filho de Deus e a violência, a raiva dos seus acusadores. Na realidade, eles não vieram ter com o Mestre para pedir o seu parecer - eram pessoas maldosas - mas para lhe armar uma cilada. De fato, se Jesus seguir a rigidez da lei, aprovando a lapidação da mulher, perderá a sua fama de mansidão e de bondade que tanto fascina o povo; ao contrário, se quiser ser misericordioso, terá que ir contra a lei, que Ele mesmo disse que não queria abolir mas cumprir (cf. Mt 5,17). E Jesus é posto nesta situação.

Esta má intenção esconde-se sob a pergunta que fazem a Jesus: «Tu, o que dizes?» (v. 5). Jesus não responde, fica em silêncio e faz um gesto misterioso: «Inclinou-se e começou a escrever no chão com o dedo» (v. 7). Talvez fizesse desenhos, alguns dizem que escrevia os pecados dos fariseus... contudo, escrevia, era como se estivesse em outra parte. Desta forma convida todos à calma, a não agir levados pela impulsividade, e a procurar a justiça de Deus. Mas eles, os maus, insistem e esperam d’Ele uma resposta. Parecia que tinham sede de sangue. Então Jesus levanta o olhar e diz: «Aquele que dentre vós estiver sem pecado atire a pedra contra ela» (v. 7). Esta resposta surpreende os acusadores, desarmando-os todos no verdadeiro sentido da palavra: todos abandonaram as «armas», ou seja, pedras prontas para serem lançadas, quer as visíveis contra a mulher, quer as escondidas contra Jesus. E enquanto o Senhor continua a escrever no chão com o dedo, a fazer desenhos, não sei..., os acusadores vão-se embora um depois do outro, de cabeça baixa, começando pelos mais idosos, mais cientes de não estarem sem pecado. Como nos faz bem estar cientes de que também nós somos pecadores! Quando falamos mal dos outros - estas são coisas que conhecemos bem - como nos fará bem ter a coragem de deixar cair no chão as pedras que temos para atirar contra os outros, e pensar um pouco nos nossos pecados!

Permaneceram ali só a mulher e Jesus: a miséria e a misericórdia, uma diante da outra. E quantas vezes isto acontece a nós quando nos ajoelhamos no confessionário, com vergonha, para mostrar a nossa miséria e pedir perdão! «Mulher, onde estão?» (v. 10), diz-lhe Jesus. E é suficiente esta constatação, e o seu olhar cheio de misericórdia, cheio de amor, para fazer sentir àquela pessoa - talvez pela primeira vez - que tem uma dignidade, que ela não é o seu pecado, ela tem uma dignidade de pessoa; que pode mudar de vida, pode sair das suas escravidões e caminhar por uma via nova.

Queridos irmãos e irmãs, aquela mulher representa todos nós, que somos pecadores, ou seja, adúlteros diante de Deus, traidores da sua fidelidade. E a sua experiência representa a vontade de Deus por cada um de nós: não a nossa condenação, mas a nossa salvação através de Jesus. Ele é a graça, que salva do pecado e da morte. Ele escreveu na terra, no pó com o qual é feito cada ser humano (cf. Gn 2,7), a sentença de Deus: «Não quero que morras, mas que vivas». Deus não nos deixa amarrados ao nosso pecado, não nos identifica com o mal que cometemos. Temos um nome, e Deus não identifica este nome com o pecado que cometemos. Quer libertar-nos, e pretende que também nós o queiramos juntamente com Ele. Deseja que a nossa liberdade se converta do mal em bem, e isto é possível - é possível! - com a sua graça.

A Virgem Maria nos ajude a confiar-nos completamente à misericórdia de Deus, para nos tornarmos criaturas novas.


Fonte: Santa Sé.

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