Páginas

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Catequese do Papa: A viagem a Cuba e aos EUA

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 30 de Setembro de 2015
A viagem a Cuba e aos EUA

Amados irmãos e irmãs, bom dia!
A audiência de hoje será em dois lugares: aqui na praça e também na sala Paulo VI, onde se encontram numerosos doentes que a seguem através de um grande ecrã. Visto que o tempo é um pouco mau, preferimos que eles ficassem abrigados e mais tranquilos ali. Unamo-nos uns aos outros e saudemo-nos!
Nos últimos dias realizei a viagem apostólica a Cuba e aos Estados Unidos da América. Ela nasceu da vontade de participar no Encontro Mundial das Famílias, há tempos programado em Filadélfia. Este «núcleo originário» ampliou-se a uma visita aos Estados Unidos da América e à Sede central da Organização das Nações Unidas, e depois também a Cuba, que se tornou a primeira etapa do itinerário. Exprimo novamente o meu reconhecimento ao Presidente Castro, ao Presidente Obama e ao Secretário-Geral Ban Ki-moon pela hospitalidade que me reservaram. Agradeço de coração aos irmãos Bispos e a todos os colaboradores, o grande trabalho levado a cabo e o amor à Igreja que o animou.
«Misionero de la Misericordia»: foi assim que me apresentei em Cuba, uma terra rica de beleza natural, de cultura e de fé. A misericórdia de Deus é maior do que qualquer ferida, conflito e ideologia; e com este olhar de misericórdia consegui abraçar todo o povo cubano, na pátria e fora, para além de qualquer divisão. Símbolo desta profunda unidade da alma cubana é a Virgem da Caridade do Cobre, que precisamente há cem anos foi proclamada Padroeira de Cuba. Fui como peregrino ao Santuário desta Mãe de esperança, Mãe que guia pelo caminho de justiça, paz, liberdade e reconciliação.
Pude compartilhar com o povo cubano a esperança da realização da profecia de são João Paulo II: que Cuba se abra ao mundo, e o mundo se abra a Cuba. Não mais fechamentos, nem exploração da pobreza, mas liberdade na dignidade. Este é o caminho que faz vibrar o coração de numerosos jovens cubanos: não um percurso de evasão, de lucro fácil, mas de responsabilidade, de serviço ao próximo e de cuidado pela fragilidade. Um caminho que encontra forças nas raízes cristãs daquele povo, que sofreu em grande medida. Um caminho no qual encorajei de modo particular os sacerdotes e todos os consagrados, os estudantes e as famílias. Com a intercessão de Maria Santíssima, o Espírito Santo faça crescer as sementes que pudemos lançar.
De Cuba para os Estados Unidos da América: foi uma passagem emblemática, uma ponte que, graças a Deus, se vai reconstruindo. Deus sempre deseja construir pontes; somos nós que levantamos muros. E os muros desabam sempre!
E nos Estados Unidos fiz três etapas: Washington, Nova Iorque e Filadélfia.
Em Washington encontrei-me com as Autoridades políticas, com as pessoas simples, os Bispos, os sacerdotes, os consagrados e os mais pobres e marginalizados. Recordei que a grande riqueza daquele país e do seu povo está no patrimônio espiritual e ético. E assim desejei encorajar a dar continuidade à construção social, em fidelidade ao seu princípio fundamental, isto é, que todos os homens são criados iguais por Deus e dotados de direitos inalienáveis como a vida, a liberdade e a busca da felicidade. Este valores, compartilháveis por todos, encontram no Evangelho o seu pleno cumprimento, como evidenciou oportunamente a canonização de frei franciscano Junípero Serra, grande evangelizador da Califórnia. São Junípero indica o caminho da alegria: ir e partilhar com os outros o amor de Cristo. Esta é a senda do cristão, mas também de cada homem que conheceu o amor: não o conservar para si, mas dividi-lo com os outros. Foi a partir desta base religiosa e moral que nasceram e cresceram os Estados Unidos da América, e com esta base eles podem continuar a ser terra de liberdade e acolhimento, cooperando para um mundo mais justo e fraterno.
Em Nova Iorque pude visitar a Sede central da ONU e saudar os funcionários que aí trabalham. Dialoguei com o Secretário-Geral e com os Presidentes das últimas Assembleias Gerais e do Conselho de Segurança. Dirigindo-me aos Representantes das Nações, no sulco dos meus Predecessores, renovei o encorajamento da Igreja católica àquela Instituição e ao papel que desempenha na promoção do desenvolvimento e da paz, evocando de modo particular a necessidade do compromisso concorde e concreto no cuidado da criação. Reiterei também o apelo a pôr fim e a prevenir as violências contra as minorias étnicas e religiosas, e contra as populações civis.
Pela paz e pela fraternidade pudemos rezar no Memorial do Ground Zero, juntamente com os representantes das religiões, com os parentes de numerosas vítimas e com a população de Nova Iorque, tão rica de variedades culturais. E no Madison Square Garden celebrei a Eucaristia pela paz e pela justiça.
Tanto em Washington como em Nova Iorque pude encontrar-me com algumas realidades caritativas e educativas, emblemáticas do enorme serviço que as comunidades católicas - sacerdotes, religiosas, religiosos e leigos - oferecem nestes campos.
O apogeu da viagem foi o Encontro Mundial das Famílias, em Filadélfia, onde o horizonte se ampliou para o mundo inteiro, através do «prisma», por assim dizer, da família. A família, ou seja, a aliança fecunda entre o homem e a mulher, é a resposta ao grande desafio do nosso mundo, que constitui um duplo desafio: a fragmentação e a massificação, dois extremos que convivem e que se sustêm reciprocamente e, ao mesmo tempo, apoiam o modelo econômico consumista. A família é a resposta porque representa a célula de uma sociedade que equilibra as dimensões pessoal e comunitária, e que ao mesmo tempo pode ser o modelo de uma gestão sustentável dos bens e dos recursos da criação. A família é a protagonista de uma ecologia integral, porque constitui o sujeito social primário, que contém no seu interior os dois princípios-base da civilização humana sobre a terra: o princípio de comunhão e o princípio de fecundidade. O humanismo bíblico apresenta-nos este ícone: o casal humano, unido e fecundo, posto por Deus no jardim do mundo, para o cultivar e preservar.
Desejo dirigir um agradecimento fraternal e caloroso a D. Chaput, Arcebispo de Filadélfia, pelo seu compromisso, piedade e entusiasmo, e pelo seu grande amor à família na organização deste evento. Vendo bem, não é um caso, mas é providencial que a mensagem, aliás o testemunho do Encontro Mundial das Famílias, tenha vindo neste momento dos Estados Unidos da América, ou seja, do país que no século passado alcançou o máximo desenvolvimento econômico e tecnológico, sem renegar as suas raízes religiosas. Agora, estas raízes pedem para recomeçar a partir da família, para repensar e mudar o modelo de desenvolvimento, a bem de toda a família humana.


Fonte: Santa Sé

Nenhum comentário:

Postar um comentário