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terça-feira, 19 de maio de 2015

Homilia do Papa na Missa de Abertura da Assembleia da Caritas

SANTA MISSA NA ABERTURA DA ASSEMBLEIA GERAL DA «CARITAS INTERNATIONALIS»
HOMILIA DO PAPA FRANCISCO
Basílica Vaticana
Terça-feira da VI semana de Páscoa, 12 de Maio de 2015

A leitura dos Actos dos Apóstolos que ouvimos (16, 22-34) apresenta um personagem um pouco especial. É o carcereiro da prisão de Filipos, onde Paulo e Silas foram encarcerados depois de um tumulto da multidão contra eles. Os magistrados primeiramente ordenaram que lhes fossem dadas muitas pauladas e depois os lançassem na prisão, recomendando ao carcereiro que os tivesse sob atenta vigilância. Eis porque aquele homem, durante a madrugada, sentindo o forte tremor e vendo as portas do cárcere abertas, desanimou e pensou em suicidar-se. Mas Paulo tranquilizou-o e ele, a tremer e cheio de admiração, suplicou de joelhos a salvação.
A narração diz-nos que aquele homem deu imediatamente os passos essenciais no caminho da fé e da salvação: ouviu a palavra do Senhor, juntamente com os seus familiares; lavou as feridas de Paulo e Silas; recebeu o Baptismo com todos os seus parentes; e por fim, acolheu Paulo e Silas em sua casa, preparou a mesa e ofereceu-lhes de comer, cheio de alegria. Todo o percurso da fé.
O Evangelho, anunciado e acreditado, impele a lavar os pés e as feridas dos sofredores e a preparar-lhes a mesa. Simplicidade de gestos, onde o acolhimento da Palavra e do sacramento do Baptismo está acompanhado pelo acolhimento do irmão, quase como se se tratasse de um gesto único: acolher Deus e acolher o próximo; receber o outro com a graça de Deus; acolher Deus e manifestá-lo no serviço ao irmão. Palavra, Sacramento e serviço exigem-se e alimentam-se reciprocamente, como se vê já nestes testemunhos da Igreja das origens.
Neste gesto podemos ver toda a chamada da Caritas. A Caritas é uma grande Confederação, reconhecida amplamente também no mundo pelas suas realizações. Caritas é Igreja em muitíssimas partes do mundo, e deve encontrar ainda mais difusão também nas diversas paróquias e comunidades, para renovar o que aconteceu nos primeiros tempos da Igreja. De facto, a raiz de todo o vosso serviço consiste precisamente no acolhimento, simples e obediente, de Deus e do próximo. Esta é a raiz. Se se arrancar esta raiz, a Caritas morre. Este acolhimento realiza-se em vós pessoalmente, porque depois ides pelo mundo e servis em nome de Cristo que encontrastes e que encontrais em cada irmão e irmã dos quais vos aproximais; e por isso não vos reduzis a uma simples organização humanitária. A Caritas de cada Igreja particular, inclusive da menor delas, é a mesma: não há Caritas grandes eCaritas pequenas, são todas iguais. Peçamos ao Senhor a graça de entender a verdadeira dimensão da Caritas; a graça de não cair no engano de pensar que um centralismo bem organizado seja o caminho; a graça de compreender que Caritas está sempre na periferia, em cada Igreja particular; e a graça de crer que o centro da Caritas é só ajuda, serviço e experiência de comunhão mas não é o chefe de todas.
Quem vive a missão da Caritas não é um mero agente, mas uma testemunha de Cristo. Uma pessoa que procura Cristo e se deixa procurar por Ele; que ama com o espírito de Cristo, o espírito da gratuitidade, o espírito do dom. Todas as nossas estratégias e planificações permanecem vazias se não tivermos em nós este amor. Não o nosso amor, mas o seu. Ou melhor ainda, o nosso purificado e fortalecido pelo seu.
Deste modo pode-se servir a todos e preparar a mesa para todos. Esta é uma bonita imagem que a Palavra de Deus nos oferece hoje: preparar a mesa. Deus prepara-nos a mesa da Eucaristia, também agora. A Caritas prepara muitas mesas para quem tem fome. Nestes meses realizastes a grande campanha «Uma família humana, alimento para todos». Também hoje muitas pessoas esperam comer o suficiente. O planeta tem alimento para todos, mas parece que falta a vontade de partilhar com todos. Preparar a mesa para todos, e pedir que haja uma mesa para todos. Fazer o que podemos para que todos tenham de comer, mas recordar também aos poderosos da terra que Deus os chamará um dia em juízo, e manifestar-se-á deveras se procuraram providenciar alimentos para Ele em cada pessoa (cf. Mt 25, 35) e se agiram a fim de que o meio ambiente não fosse destruído mas pudesse produzir este alimento.
E pensando na mesa da Eucaristia, não podemos esquecer daqueles nossos irmãos cristãos que com a violência foram privados do alimento tanto para o corpo como para a alma: foram expulsos das suas casas e das suas igrejas, às vezes destruídas. Renovo o apelo a não esquecer estas pessoas e estas injustiças intoleráveis.
Juntamente com muitos outros organismos de caridade da Igreja, a Caritas revela a força do amor cristão e o desejo da Igreja de ir ao encontro de Jesus em cada pessoa, sobretudo quando é pobre e sofre. Este é o caminho que temos diante de nós e com este horizonte faço votos que possais realizar os trabalhos destes dias. Confiemo-los à Virgem Maria, que fez do acolhimento de Deus e do próximo o critério fundamental da sua vida. Precisamente amanhã celebraremos Nossa Senhora de Fátima, que apareceu para anunciar a vitória sobre o mal. Com um apoio assim tão grande não tenhamos medo de continuar a nossa missão. Assim seja!



Fonte: Santa Sé

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