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sexta-feira, 22 de maio de 2015

Homilia do Papa: Canonização de quatro Beatas

Santa Missa e Canonização das Beatas:
Giovanna Emília de Villeneuve, Maria Cristina da Imaculada Conceição Brando, Maria Alfonsina Danil Ghattas e Maria de Jesus Crucificado Baouardy
Homilia do Papa Francisco
Praça São Pedro
 VII Domingo de Páscoa (Ano B), 17 de maio de 2015

Os Atos dos Apóstolos apresentaram-nos a Igreja nascente no momento em que escolhe aquele que Deus chamou para ocupar o lugar de Judas no colégio dos Apóstolos. Não se trata de assumir um cargo, mas um serviço. E com efeito Matias, que foi o escolhido, recebe uma missão que Pedro define com as seguintes palavras: «É necessário que (...) um deles se torne, juntamente conosco, testemunha da sua Ressurreição» - da Ressurreição de Cristo (At 1,21-22). Com estas expressões ele resume o que significa fazer parte dos Doze: quer dizer ser testemunha da Ressurreição de Jesus. Quando ele diz «juntamente conosco» fez-nos compreender que a missão de anunciar Cristo ressuscitado não é uma tarefa individual: ela deve ser vivida de modo comunitário, juntamente com o colégio apostólico e com a comunidade. Os Apóstolos fizeram a experiência direta e maravilhosa da Ressurreição; são testemunhas oculares daquele acontecimento. Graças ao seu testemunho influente, muitas pessoas acreditaram; e da fé em Cristo ressuscitado nasceram e ainda surgem continuamente as comunidades cristãs. Também nós, hoje, fundamos a nossa fé no Senhor ressuscitado sobre o testemunho dos Apóstolos, que chegou até nós mediante a missão da Igreja. A nossa fé está ligada solidamente ao seu testemunho, como a uma corrente ininterrupta que se estendeu ao longo dos séculos, não só pelos sucessores dos Apóstolos, mas também por inúmeras gerações de cristãos. Com efeito, à imitação dos Apóstolos, cada discípulo de Cristo está chamado a tornar-se testemunha da sua Ressurreição, principalmente naqueles ambientes humanos em que são mais evidentes o esquecimento de Deus e a confusão do homem.

Para que isto se realize, é necessário permanecer em Cristo ressuscitado e no seu amor, como nos recordou a Primeira Carta de João: «Quem permanece no amor, permanece em Deus e Deus nele» (1Jo 4,16). Jesus repetiu-o com insistência aos seus discípulos: «Permanecei em mim... Perseverai no meu amor» (Jo 15,4.9). Este é o segredo dos santos: permanecer em Cristo, unidos a Ele como os ramos à videira, para dar muito fruto (cf. Jo 15,1-8). E este fruto é unicamente o amor. Este amor resplandece no testemunho da irmã Giovanna Emília de Villeneuve, que consagrou a sua vida a Deus e aos pobres, aos enfermos, aos prisioneiros e aos explorados, tornando-se para eles e para todos um sinal concreto do amor misericordioso do Senhor.

Santa Giovanna Emília de Villeneuve

A relação com Jesus ressuscitado é - por assim dizer - a «atmosfera» em que vive o cristão e na qual encontra a força para permanecer fiel ao Evangelho, inclusive no meio dos obstáculos e das incompreensões. «Permanecer no amor»: foi assim que agiu também a irmã Maria Cristina Brando. Ela deixou-se conquistar completamente pelo amor apaixonado ao Senhor; e através da oração e do encontro de «coração a coração» com Jesus ressuscitado, presente na Eucaristia, ela recebia a força para suportar os sofrimentos e para se oferecer como pão partido a numerosas pessoas que viviam distantes de Deus e famintas de amor autêntico.

Santa Maria Cristina da Imaculada Conceição

Um aspecto essencial do testemunho que devemos prestar ao Senhor ressuscitado é a unidade entre nós, seus discípulos, à imagem da unidade que subsiste entre Ele e o Pai. Também hoje ressoou no Evangelho a oração de Jesus na véspera da Paixão: «Para que todos sejam um, como nós» (Jo 17,11). Deste amor eterno entre o Pai e o Filho, que se infunde em nós por intermédio do Espírito Santo (cf. Rm 5,5), adquirem vigor a nossa missão e a nossa comunhão fraternal; é dele que brota sempre de novo a alegria de seguir o Senhor pelo caminho da sua pobreza, da sua castidade e da sua obediência; é aquele mesmo amor que nos chama a cultivar a oração contemplativa. Foi quanto experimentou de maneira eminente a irmã Maria Baouardy que, humilde e iletrada, soube dar conselhos e explicações teológicas com extrema clarividência, fruto do diálogo incessante que mantinha com o Espírito Santo. A docilidade ao Espírito Santo fez dela também um instrumento de encontro e de comunhão com o mundo muçulmano. Assim também a irmã Maria Alfonsina Danil Ghattas entendeu bem o que significa irradiar o amor de Deus no apostolado, tornando-se testemunha de mansidão e de unidade. Ela oferece-nos um claro exemplo da importância de nos tornarmos responsáveis uns pelos outros, de vivermos uns ao serviço dos outros.

Santa Maria de Jesus Crucificado
Santa Maria Alfonsina Danil Ghattas

Permanecer em Deus e no seu amor, para anunciar com a palavra e com a vida a Ressurreição de Jesus, dando testemunho da unidade entre nós e da caridade para com todos. Foi o que levaram a cabo as quatro Santas hoje proclamadas. O seu exemplo luminoso interpela a nossa vida cristã: como sou testemunha de Cristo Ressuscitado? É uma questão que devemos levantar. Como permaneço nele, como habito no seu amor? Sou capaz de «lançar» na família, no ambiente de trabalho, no seio da minha comunidade, a semente daquela unidade que Ele nos concedeu, comunicando-a a nós a partir da vida trinitária?

Quando voltarmos para casa hoje, levemos connosco a alegria deste encontro com o Senhor ressuscitado; cultivemos no coração o compromisso a permanecer no amor de Deus, perseverando unidos a Ele e entre nós, e seguindo os passos destas quatro mulheres, modelos de santidade, que a Igreja nos convida a imitar.

Fonte: Santa Sé.

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