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terça-feira, 3 de março de 2015

Ângelus: I Domingo da Quaresma - Ano B

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 22 de fevereiro de 2015

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Quarta-feira passada, com o rito das Cinzas, teve início a Quaresma, e hoje é o I Domingo deste tempo litúrgico que faz referência aos quarenta dias que Jesus passou no deserto, depois do batismo no rio Jordão. Escreve São Marcos no Evangelho de hoje: «O Espírito Santo levou Jesus para o deserto. Ali, durante quarenta dias, unicamente acompanhado pelos animais do deserto, sofreu as tentações de Satanás, que queria que cometesse pecado. E os anjos cuidavam dele» (Mc 1,12-13). Com estas poucas palavras o evangelista descreve a prova enfrentada voluntariamente por Jesus, antes de começar a sua missão messiânica. É uma prova da qual o Senhor sai vitorioso e que o prepara para anunciar o Evangelho do Reino de Deus. Ele, naqueles quarenta dias de solidão, enfrentou Satanás «corpo a corpo», desmascarou as suas tentações e venceu-o. E n’Ele «todos vencemos, mas a nós cabe proteger no nosso dia-a-dia esta vitória.

A Igreja faz-nos recordar este mistério no início da Quaresma, porque ele nos dá a perspectiva e o sentido deste tempo, que é um tempo de combate - na Quaresma deve-se combater - um tempo de combate espiritual contra o espírito do mal (cf. Oração da coleta de Quarta-Feira de Cinzas). E ao atravessarmos o «deserto» quaresmal, nós mantemos o olhar dirigido para a Páscoa, que é a vitória definitiva de Jesus contra o Maligno, contra o pecado e a morte. Eis então o significado deste I Domingo de Quaresma: pormo-nos decididamente no caminho de Jesus, o caminho que conduz à vida. Olharmos para Jesus, para o que Ele fez, e andarmos com Ele.

E este caminho de Jesus passa através do deserto. O deserto é o lugar onde se pode ouvir a voz de Deus e a voz do tentador. No barulho, na confusão isto não se pode fazer; ouvem-se só as vozes superficiais. Ao contrário, no deserto podemos descer em profundidade, onde se joga deveras o nosso destino, a vida ou a morte. E como ouvimos a voz de Deus? Ouvimo-la na sua Palavra. Por isso é importante conhecer as Escrituras, porque de outro modo não sabemos responder às insídias do maligno. E volto a recordar o meu conselho de ler todos os dias o Evangelho: ler todos os dias o Evangelho, meditá-lo, um pouquinho, dez minutos; e levá-lo sempre conosco: no bolso, na bolsa... Tê-lo sempre conosco. O deserto quaresmal ajuda-nos a dizer não à mundanidade, aos «ídolos», ajuda-nos a fazer escolhas corajosas conformes com o Evangelho e que fortaleçam a solidariedade com os irmãos.

Entremos então no deserto sem medo, porque não estamos sozinhos: estamos com Jesus, com o Pai e com o Espírito Santo. Aliás, assim como para Jesus, é precisamente o Espírito Santo que nos guia no caminho quaresmal, aquele mesmo Espírito que desceu sobre Jesus e que nos foi doado no Batismo. Por isso, a Quaresma é um tempo propício que deve levar-nos a tomar cada vez mais consciência de quanto o Espírito Santo, recebido no Batismo, realizou em nós. E no fim do itinerário quaresmal, na Vigília Pascal, poderemos renovar com maior consciência a aliança batismal e os compromissos que dela derivam.

A Virgem Santa, modelo de docilidade ao Espírito, nos ajude a deixar-nos guiar por Ele, que de cada um quer fazer uma «criatura nova». A ela confio, em particular, esta semana de Exercícios Espirituais, que terá início hoje à tarde, e na qual participarei juntamente com os meus colaboradores da Cúria Romana. Rezai para que neste «deserto» que são os Exercícios possamos ouvir a voz de Jesus e corrigir também os muitos defeitos que todos temos, e fazer face às tentações que cada dia nos insidiam. Portanto, peço-vos que nos acompanheis com a oração.


Fonte: Santa Sé.

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