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quinta-feira, 16 de outubro de 2014

IX Catequese do Papa sobre a Igreja

PAPA FRANCISCO
AUDIÊNCIA GERAL
Praça de São Pedro
Quarta-feira, 8 de Outubro de 2014

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
Nas últimas catequeses, quisemos esclarecer a natureza e a beleza da Igreja, perguntando-nos o que comporta para cada um de nós, fazer parte deste povo, do povo de Deus que é a Igreja. Contudo, não podemos esquecer que numerosos irmãos compartilham connosco a fé em Cristo, mas que pertencem a outras confissões ou tradições diferentes da nossa. Muitos já se resignaram a esta divisão - e resignaram-se inclusive no seio da nossa Igreja católica - que ao longo da história foi com frequência causa de conflitos e de sofrimentos, e até de guerras, e isto é uma vergonha! Ainda hoje os relacionamentos nem sempre estão caracterizados pelo respeito e pela cordialidade... No entanto, interrogo-me: e nós, como nos pomos diante de tudo isto? Também nós estamos resignados, ou até somos indiferentes? Ou, ao contrário, cremos firmemente que podemos e devemos caminhar rumo à reconciliação e à plena comunhão? A plena comunhão, ou seja, poder participar todos juntos no corpo e sangue de Cristo.
Enquanto ferem a Igreja, as divisões entre os cristãos ferem também Cristo, e divididos nós provocamos uma ferida a Cristo: com efeito, a Igreja é o Corpo cuja Cabeça é Cristo. Sabemos bem como Jesus fazia questão que os seus discípulos permanecessem unidos no Seu amor. É suficiente pensar nas suas palavras, citadas no capítulo 17 do Evangelho de João, na oração dirigida ao Pai na iminência da paixão: «Pai santo, guarda em teu nome aqueles que me deste a fim de que, como nós, também eles sejam um só» (Jo 17, 11). Esta unidade já estava ameaçada enquanto Jesus ainda se encontrava no meio dos seus: com efeito, no Evangelho recorda-se que os Apóstolos discutiam entre si sobre quem era o maior, o mais importante (cf. Lc 9, 46). No entanto, o Senhor insistiu muito sobre a unidade em nome do Pai, levando-nos a compreender que o nosso anúncio e o nosso testemunho serão tanto mais credíveis, quanto mais nós formos os primeiros a tornar-nos capazes de viver em comunhão e de nos amarmos uns aos outros. Foi aquilo que os seus Apóstolos, com a graça do Espírito Santo, depois entenderam profundamente e levaram no seu coração, a tal ponto que são Paulo chegará a implorar a comunidade de Corinto com estas palavras: «Rogo-vos, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que todos estejais em pleno acordo e que entre vós não haja divisões. Vivei em boa harmonia, no mesmo espírito e com os mesmos sentimentos» (1 Cor 1, 10).
Ao longo do seu caminho na história, a Igreja é tentada pelo maligno, que procura dividi-la, e infelizmente foi marcada por separações graves e dolorosas. Trata-se de visões que às vezes se prolongaram no tempo, até hoje, pelo que já é difícil reconstruir todas as suas motivações e sobretudo encontrar soluções possíveis. As razões que levaram às rupturas e às separações podem ser as mais variadas: divergências sobre os princípios dogmáticos e morais e sobre diferentes conceitos teológicos e pastorais, motivos políticos e de conveniência, atritos devidos a antipatias e ambições pessoais... O que é certo é que, de uma forma ou de outra, por detrás de tais dilacerações encontram-se sempre a soberba e o egoísmo, que constituem a causa de todos os desacordos e que nos tornam intolerantes, incapazes de ouvir e de aceitar quem tem uma visão ou uma posição diferente da nossa.
Pois bem, diante de tudo isto, existe algo que cada um de nós, como membros da santa mãe Igreja, podemos e devemos fazer? Sem dúvida, não pode faltar a oração, em comunidade e em comunhão com a prece de Jesus, a oração pela unidade dos cristãos. E além da oração, o Senhor também nos pede uma abertura renovada: pede-nos que não nos fechemos ao diálogo nem ao encontro, mas que aceitemos tudo o que de válido e positivo nos é oferecido, inclusive por quantos pensam diversamente de nós ou por aqueles que se colocam em posições diferentes das nossas. Pede-nos que não fixemos o nosso olhar no que nos divide mas, ao contrário, no que nos une, procurando conhecer e amar melhor Jesus e compartilhar a riqueza do seu amor. E isto comporta concretamente a adesão à verdade, juntamente com a capacidade de nos perdoarmos, de nos sentirmos parte de uma mesma família cristã, de nos considerarmos uns dádivas para os outros e, juntos, fazermos tantas boas acções e obras de caridade.
É doloroso, mas existem divisões, cristãos separados, e nós mesmos vivemos divididos entre nós. Mas todos dispomos de algo em comum: todos nós cremos em Jesus Cristo, o Senhor. Todos cremos no Pai e no Filho e no Espírito Santo, e todos nós caminhamos juntos, estamos a caminho. Ajudemo-nos uns aos outros! Mas tu pensas deste modo, e tu pensas daquela maneira... Em todas as comunidades existem bons teólogos: que eles debatam, que procurem a verdade teológica, porque se trata de um dever, mas nós caminhemos juntos, rezando uns pelos outros, levando a cabo obras de caridade. E assim construamos a comunhão, ao longo do caminho. Isto chama-se ecumenismo espiritual: percorrer o caminho da vida todos juntos na nossa fé, no Senhor Jesus Cristo. Diz-se que não devemos falar de coisas pessoais, mas não resisto à tentação. Falamos de comunhão... de comunhão entre nós. E estou deveras grato ao Senhor porque hoje festejo o 70º aniversário da minha primeira Comunhão. Mas todos nós devemos saber que receber a primeira Comunhão significa entrar em comunhão com os outros, em comunhão com os irmãos da nossa Igreja, mas inclusive em comunhão com todos aqueles que pertencem a diferentes comunidades, mas que acreditam em Jesus. Demos graças ao Senhor pelo nosso Baptismo, agradeçamos ao Senhor a nossa comunhão, e para que esta comunhão chegue a ser de todos nós juntos.
Então, caros amigos, vamos em frente rumo à plena unidade! A história separou-nos, mas estamos a caminho no sulco da reconciliação e da comunhão! Esta é a verdade. E devemos defender isto! Todos nós estamos a caminho rumo à comunhão. E quando a meta nos pode parecer demasiado distante, quase inatingível, e nos sentimos arrebatados pelo desânimo, anime-nos a ideia de que Deus não pode fechar os seus ouvidos à voz do próprio Filho Jesus, não pode deixar de atender à sua e nossa oração, a fim de que todos os cristãos sejam verdadeiramente um só!


Fonte: Santa Sé

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