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sexta-feira, 5 de setembro de 2014

A mitra

A mitra é a insígnia utilizada pelo Bispo sobre a cabeça nas celebrações litúrgicas. Consiste em dois pentágonos de pano rígido costurados (formato bicúspide) e com a ponta voltada para cima. Da parte de trás pendem duas tiras de pano (ínfulas).


O sentido da mitra é expresso por seu próprio formato, que “aponta para o alto”, indicando que o poder do Bispo vem de Deus, o qual lhe concede esta “coroa da justiça” (2Tm 4,8). A mitra simboliza também a santidade à qual o Bispo é chamado a viver, como indica a oração que acompanha sua entrega na Ordenação Episcopal:

“Recebe a mitra e brilhe em ti o esplendor da santidade, para que, quando vier o Príncipe dos pastores, mereças receber a imarcescível coroa da glória”
(Pontifical Romano, Rito da Ordenação de um Bispo, p. 79)

Papa Francisco impõe a mitra a um novo Bispo (2013)
Nesta mesma linha está a reflexão do Papa São João Paulo II, que em seu livro “Levantai-vos! Vamos!” enfatiza a função da mitra como exortação à santidade: “o Bispo é chamado à santidade pessoal para contribuir para o crescimento da santidade na comunidade eclesial que lhe foi confiada” (p. 56).

As ínfulas têm igualmente uma dupla significação: simbolizam tanto o poder sacerdotal, que o Bispo possui em plenitude, quanto seu dever de possuir o conhecimento da Sagrada Escritura (Antigo e Novo Testamento) para bem exercer seu múnus de ensinar.

Os primeiros cristãos sempre rezavam com a cabeça descoberta durante as celebrações, exceto as mulheres, que usavam um véu. O primeiro registro de uma cobertura de cabeça na Liturgia é do século VIII, que fala do uso do camelauco (espécie de gorro) branco por parte do Papa. Somente no século XI o camelauco toma o nome de mitra e passa a ser insígnia de todos os bispos.

Atualmente, as normas gerais para o uso da mitra estão determinadas pelo número 60 do Cerimonial dos Bispos. Recorda-se primeiramente que a mitra é uma só dentro da celebração (na Forma Extraordinária do Rito Romano usa-se duas) e que seu tipo é determinado conforme a celebração:

Mitra simples: não possui nenhum ornato, sendo inteiramente branca (exceto a mitra simples do Papa, que possui leves contornos em dourado). É utilizada na Quarta-feira de Cinzas, na Celebração da Paixão do Senhor, na Comemoração dos Fieis Defuntos, no rito da Inscrição do Nome dos Catecúmenos, nas celebrações penitenciais e nas exéquias (inclusive nas do próprio bispo, que é sepultado com a mitra simples).

Papa Francisco com a mitra simples na Celebração da Paixão (2014)
Mitra ornada: possui algum ornamento, geralmente um titulus (galão na forma de um “T” invertido), que pode ser da cor litúrgica ou não. É utilizada em todas as celebrações em que não se pede expressamente a mitra simples.

Papa Francisco com mitra ornada no Domingo de Páscoa (2014)
Há um costume que nas concelebrações apenas o celebrante principal use a mitra ornada e todos os demais usem a mitra simples. Isto é observado principalmente nas celebrações presididas pelo Papa, nas quais os bispos devem usar mitra simples.

Nestas celebrações, há também o costume de os Cardeais usarem um tipo específico de mitra, a “damascata”, também chamada de “mitra pinha”. Esta possui os contornos de uma pinha, simbolizando a união dos Cardeais em torno do Romano Pontífice.

Cardeais Diáconos com a mitra pinha (2008)
O Bispo usa a mitra apenas dentro das celebrações litúrgicas, ao menos nas mais solenes, podendo dispensá-la nas celebrações mais simples. Geralmente o Bispo a usa nos seguintes momentos (cf. Cerimonial dos Bispos, n. 60):
  • Nas procissões (exceto quando se leva o Santíssimo Sacramento ou relíquias da Cruz);
  • Quando está sentado;
  • Para fazer a homilia;
  • Para dar a bênção;
  • Nos gestos sacramentais (infusão da água no Batismo, imposição das mãos nas Ordenações, etc);
  • Para as monições ou avisos.

O Bispo NÃO usa a mitra:
  • Diante do Santíssimo Sacramento exposto;
  • Durante as orações (Ritos iniciais, Preces, Oração Eucarística, etc);
  • Durante o Evangelho;
  • Durante os hinos e cânticos evangélicos da Liturgia das Horas.

Para tornar claro como se dá o uso da Mitra, o Cerimonial remete às rubricas específicas das diversas celebrações. Buscaremos tratar deste assunto em postagens futuras sobre as celebrações presididas pelo Bispo.

Como fora dito anteriormente, a mitra é entregue ao Bispo em sua Ordenação, sendo-lhe imposta na cabeça pelo Ordenante principal, logo após a entrega do anel. Nas demais celebrações, é costume que a mitra lhe seja imposta ou retirada pelo cerimoniário (em uma concelebração, tal gesto destina-se apenas ao celebrante principal).

Cerimoniário impõe a mitra no Papa Francisco

6 comentários:

  1. Olá, a mitra simples tem seu uso obrigatório em algumas celebração, como ali descritas a cima, porém elas podem ser usadas em outras ocasiões ?

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    1. É importante reservar o uso da mitra simples para os momentos em que está prescrita, para distinguir as várias celebrações.

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  2. Na Forma Extraordinária utilizam-se duas mitras. Por que e em quais momentos se utiliza um ou outra?

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    1. Em linhas gerais, nas Missas solenes, o Bispo usava a mitra preciosa ou ornada nas procissões, para ser incensado e para dar a bênção, e a mitra aurifrigiada (inteiramente dourada) quando estivesse sentado.
      Nos tempos penitenciais, como o Advento e a Quaresma, no lugar da mitra preciosa se usava a mitra aurifrigiada e no lugar desta a mitra simples (inteiramente branca).

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  3. É lícito o uso das mitras coloridas, inteiramente na cor lirtúrgica, como as totalmente verdes, vermelhas, roxas, etc ...?

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    1. Tecnicamente sim. O Cerimonial dos Bispos distingue apenas a mitra simples (inteiramente branca) e a mitra ornada (com algum ornamento).
      Contudo, o valor estético dessas mitras às vezes é questionável, pois costumam ser bastante chamativas.

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