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quinta-feira, 6 de março de 2014

Catequese do Papa sobre a Quaresma

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira de Cinzas, 05 de março de 2014

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
Começa hoje, Quarta-feira de Cinzas, o itinerário quaresmal de quarenta dias que nos conduzirá até ao Tríduo pascal, memorial da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor, âmago do mistério da nossa salvação. A Quaresma prepara-nos para este momento tão importante, e é por este motivo que ela constitui um «tempo forte», um ponto de reviravolta que pode favorecer a mudança, a conversão, em cada um de nós. Todos nós temos necessidade de nos aperfeiçoarmos, de melhorar. A Quaresma ajuda-nos e assim abandonamos os hábitos cansados e a dependência indolente do mal que nos ameaça. No tempo quaresmal, a Igreja dirige-nos dois convites importantes: adquirir uma consciência mais profunda da obra redentora de Cristo; e viver o próprio Baptismo com maior comprometimento.

A consciência das grandes obras que o Senhor realizou para a nossa salvação dispõe a nossa mente e o nosso coração para uma atitude de ação de graças a Deus, pelo que Ele nos concedeu, por tudo aquilo que leva a cabo em benefício do seu Povo e da humanidade inteira. É aqui que tem início a nossa conversão: ela é a resposta reconhecida ao mistério maravilhoso do amor de Deus. Quando nos damos conta deste amor que Deus tem por nós, sentimos a vontade de nos aproximarmos dele: é nisto que consiste a conversão.

Viver o Batismo até ao fundo - eis o segundo convite - significa também não se habituar com as situações de degradação e de miséria que encontramos, quando caminhamos pelas ruas das nossas cidades e dos nossos povoados. Persiste o risco de aceitar passivamente determinados comportamentos, sem nos surpreendermos perante as realidades tristes que nos circundam. Habituamo-nos com a violência, como se ela fosse uma notícia diária normal; acostumamo-nos com os irmãos e as irmãs que dormem ao relento, que não dispõem de um abrigo onde se refugiar. Habituamo-nos com os refugiados em busca de liberdade e de dignidade, que não são acolhidos como deveriam. Acostumamo-nos com uma sociedade que pretende viver sem Deus, na qual os pais já não ensinam aos seus filhos a rezar, e nem sequer a fazer o sinal da cruz. Pergunto-vos: os vossos filhos, as vossas crianças sabem fazer o sinal da cruz? Pensai nisto! Os vossos netos sabem fazer o sinal da cruz? Ensinaste-los a fazer o sinal da cruz? Pensai e respondei dentro do vosso coração. Sabem eles recitar o Pai-Nosso? Sabem rezar a Nossa Senhora com a Ave-Maria? Pensei e respondei a vós mesmos. Esta dependência de comportamentos não cristãos, cómodos, narcotiza o nosso coração!

A Quaresma chega-nos como um tempo providencial para mudar de rota, para recuperar a capacidade de reagir diante da realidade do mal que nos desafia sempre. A Quaresma deve ser vivida como tempo de conversão, de renovação pessoal e comunitária, mediante a aproximação a Deus e a confiante adesão ao Evangelho. Deste modo, ele permite-nos considerar com olhos novos os irmãos e as suas necessidades. Por isso, a Quaresma é um momento favorável para se converter ao amor a Deus e ao próximo; um amor que saiba fazer sua a atitude de gratuidade e de misericórdia do Senhor, que «se fez pobre para nos enriquecer mediante a sua pobreza» (cf. 2 Cor 8,9). Se meditarmos os mistérios centrais da fé, da paixão, da cruz e da ressurreição de Cristo, dar-nos-emos conta de que a dádiva incomensurável da Redenção nos foi concedida por uma iniciativa gratuita de Deus.

Acção de graças a Deus pelo mistério do seu amor crucificado; fé autêntica, conversão e abertura do coração aos irmãos: eis os elementos essenciais para viver o tempo da Quaresma. Neste caminho, queremos invocar com confiança especial a salvaguarda e o auxílio da Virgem Maria: que Ela, a primeira que acreditou em Cristo, nos acompanhe nos dias de oração intensa e de penitência, para chegarmos a celebrar, purificados e renovados no Espírito, o grande mistério da Páscoa do seu Filho.


Fonte: Santa Sé.

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