Páginas

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

A celebração do Consistório

No próximo sábado, 22 de fevereiro, Festa da Cátedra de São Pedro, Sua Santidade o Papa Francisco presidirá o primeiro Consistório Ordinário Público para a criação de Cardeais de seu pontificado, conforme anunciado no Angelus do último dia 13 de janeiro.


Um Consistório é uma reunião solene dos Cardeais, convocados e sob a presidência do Papa. Pode ser Ordinário (para a celebração de algum ato solene ou para a consulta aos cardeais sobre algum assunto de interesse da Igreja) ou Extraordinário (para a consulta aos cardeais em casos graves e de necessidades especiais da Igreja). Apenas o Consistório Ordinário pode ser público (CIC, cân. 353).

Os Cardeais são bispos ou presbíteros que constituem o Colégio Cardinalício, responsável pela eleição do Papa e por auxiliá-lo no governo da Igreja, aconselhando-o em questões mais graves e presidindo os Dicastérios da Cúria Romana (CIC cân. 349).


No início da Igreja eram chamados de cardeais os presbíteros que constituíam o conselho do bispo em uma diocese. A partir do século XI este título ficou restrito à diocese de Roma, mais especificamente aos presbíteros das principais igrejas da cidade, as tituli. Com o tempo, o título foi estendido aos sete diáconos que regiam as regiões em que se dividia a cidade para o serviço da caridade, as diaconias, e aos bispos das dioceses próximas a Roma, as dioceses suburbicárias. Desta tradição provém a atual divisão dos Cardeais em três ordens: Episcopal, Presbiteral e Diaconal (CIC, cân. 350).

Feita esta introdução, vamos conhecer o rito do consistório do próximo sábado, basicamente o mesmo utilizado durante o pontificado de Bento XVI, com pequenas alterações. O livreto da celebração já está disponível no site da Santa Sé.

A celebração inicia-se com a procissão de entrada, ao canto da tradicional antífona Tu est Petrus (Mt 16, 18-19). Chegando diante do altar, o Santo Padre se ajoelhará por um momento em silenciosa oração.


Chegando à sede, o Papa recita o sinal da cruz e a saudação, como na Missa, e recita a coleta ou oração do dia. Em seguida, se fará a proclamação do Evangelho (Mc 10, 32-45), a homilia do Santo Padre e um momento de silêncio.

Passa-se então ao rito da criação dos cardeais, iniciado pela alocução do Santo Padre:

Fratres carissimi, munus gratum idemque grave sumus expleturi, quod cum ad Romanam Ecclesiam imprimis pertineat totius quoque Ecclesia corpus afficit: in Patrum Cardinalium Collegium nonnullos Fratres cooptabimus, qui artiore vinculo cum Petri Sede devinciantur, Romani Cleri membra fiant et in apostolico servitio Nobiscum strictius cooperentur.
Ipsi sacra purpura exornati, in Urbe Roma et in dissitis regionibus intrepidi erunt Christi testes eiusque Evangelii.
Itaque auctoritate omnipotentis Dei, sanctorum Apostolorum Petri et Pauli ac Nostra hos Venerabiles Fratres creamus et sollemniter enuntiamus Sancta Romana Ecclesia Cardinales...

Irmãos caríssimos, nos dispomos a cumprir um ato gratificante e solene de nosso sacro ministério. Ele refere-se antes de tudo à Igreja de Roma, mas interessa também a toda comunidade eclesial: chamaremos a fazer parte do Colégio dos Cardeais alguns irmãos nossos, para que sejam unidos à Sé de Pedro com mais estreito vínculo, se tornem membros do Clero de Roma e cooperem mais intensamente com nosso serviço apostólico.
Eles, investidos da sagrada púrpura, deverão ser intrépidas testemunhas de Cristo e de seu Evangelho na cidade de Roma e nas regiões mais distantes.
Portanto, com a autoridade de Deus Onipotente, dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e a nossa, criamos e proclamamos solenemente Cardeais da Santa Igreja Romana estes nossos irmãos...

O Papa anuncia os nomes dos novos cardeais e a ordem a que pertencerão (Episcopal, Presbiteral ou Diaconal). Os novos cardeais então levantam-se e fazem a profissão de fé (Símbolo Apostólico, substituindo o Símbolo Niceno-Constantinopolitano, que era tradicionalmente usado nesta celebração) e o juramento de fidelidade ao Sumo Pontífice.

Em seguida, na ordem em que foram anteriormente anunciados, os cardeais aproximam-se do Santo Padre para receberem as insígnias cardinalícias.

Entrega do Barrete Cardinalício
O barrete é a principal insígnia cardinalícia, só podendo ser usado juntamente com a veste coral. A cor vermelha do barrete indica o sangue que o cardeal se propõe a derramar, se necessário, pela Igreja, como expressa a oração:

Ad laudem omnipotentis Dei et Apostolica Sedis ornamentum, accipite biretum rubrum, Cardinalatus dignitatis insigne, per quod significatur usque ad sanguinis effusionem pro incremento christiana fidei, pace et quiete populi Dei, libertate et diffusione Sancta Romana Ecclesia vos ipsos intrepidos exhibere debere.

Para o louvor de Deus Onipotente e decoro da Sé Apostólica, recebe o barrete vermelho, sinal da dignidade do Cardinalato, significando que deveis estar pronto a comprometer-se com força, até a efusão do sangue, pelo desenvolvimento da fé cristã, pela paz e tranquilidade do povo de Deus e pela liberdade e difusão da Santa Igreja Romana.


Entrega do Anel
O Cardeal, mesmo que não seja Bispo, deve sempre portar o anel, símbolo de sua íntima união com a Igreja. Será entregue aos novos Cardeais o mesmo anel dos Consistórios anteriores: em forma de cruz, com as imagens dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e uma estrela de oito pontas, símbolo da Virgem Maria; dentro do anel, em baixo relevo, o brasão do Santo Padre. À entrega do anel o Papa reza:

Accipe anulum de manu Petri et noveris dilectione Principis Apostolorum dilectionem tuam erga Ecclesiam roborari.

Recebe o anel das mãos de Pedro e sabei que com o amor do Príncipe dos Apóstolos se reforça o teu amor para com a Igreja.


Entrega do Título ou Diaconia
Como dito anteriormente, os cardeais dividem-se em três ordens e recebem uma Igreja Suburbicária (Cardeais Bispos), um Título (Cardeais Presbíteros) ou Diaconia (Cardeais Diáconos) de uma igreja de Roma. O Santo Padre entrega a cada cardeal a bula de nomeação dizendo:

Ad honorem Dei omnipotentis et sanctorum Apostolorum Petri et Pauli, tibi committimus Titulum (vel Diaconiam) N. In nomine Patris, et Filii, et Spiritus Sancti.

Para a honra de Deus Onipotente e dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo te entregamos o Título (ou Diaconia) N. Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.


Segue-se o abraço de paz do novo cardeal com o Santo Padre e com os demais cardeais. A celebração prossegue com a Oração do Senhor (Pai Nosso) e uma oração conclusiva, encerrando-se com a bênção do Santo Padre e o canto da antífona mariana Salve Regina (Salve Rainha).

No domingo, dia 23, haverá a Concelebração Eucarística dos novos cardeais com o Santo Padre. No início desta celebração, o primeiro dentre os novos cardeais (Dom Pietro Parolin, Secretário de Estado) dirigirá um agradecimento ao Santo Padre. O livreto da celebração encontra-se disponível no site da Santa Sé.


Nota: As traduções das orações do rito do Consistório foram realizadas livremente pelo autor deste blog, utilizando-se do texto italiano disponível no livreto da celebração. Não são traduções oficiais, mas apenas aproximações ao sentido do texto, e portanto podem estar sujeitas a erros.

FONTES: Código de Direito Canônico cân. 349-359 e Livreto de Celebração do Consistório. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário