Páginas

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Catequeses do Papa: São Filipe e São Tiago

No dia 03 de maio, a Liturgia nos propõe a Festa de São Filipe e São Tiago Menor. Seguem as catequeses do Papa Bento XVI sobre estes dois Apóstolos:

Papa Bento XVI
Audiência Geral
Quarta-feira, 6 de Setembro de 2006
Filipe

Queridos irmãos e irmãs!
Prosseguindo no delineamento das fisionomias dos vários Apóstolos, como fazemos há algumas semanas, hoje encontramos Filipe. Nas listas dos Doze, ele é sempre colocado no quinto lugar (assim em Mt 10,3; Mc 3,18; Lc 6,14; At 1,13), portanto substancialmente entre os primeiros.
Apesar de Filipe ter origens hebraicas, o seu nome é grego, como o de André, e isto é um pequeno sinal de abertura cultural que não se deve subestimar. As notícias que temos sobre ele são-nos fornecidas pelo Evangelho de João. Ele provinha do mesmo lugar de origem de Pedro e de André, isto é, de Betsaida (cf. Jo 1,44), uma pequena cidade pertencente à tetrarquia de um dos filhos de Herodes, o Grande, também ele chamado Filipe (cf. Lc 3,1).
O quarto Evangelho narra que, depois de ter sido chamado por Jesus, Filipe encontra Natanael e diz-lhe: "Encontramos aquele sobre quem escreveram Moisés, na Lei, e os Profetas: Jesus, filho de José de Nazaré" (Jo 1,45). Natanael dá uma resposta bastante cética ("De Nazaré pode vir alguma coisa boa?"), perante a qual Filipe não se desencoraja e responde com determinação: "Vem e verás!" (Jo 1,46). Nesta resposta, breve mas clara, Filipe manifesta as características da verdadeira testemunha: não se contenta em propor o anúncio, como uma teoria, mas interpela diretamente o interlocutor sugerindo-lhe que faça ele mesmo uma experiência pessoal do que foi anunciado. Os mesmos dois verbos são usados pelo próprio Jesus quando dois discípulos de João Batista se aproximam dele para lhe perguntar onde mora. Jesus responde: "Vinde ver" (cf. Jo 1,38-39).
Podemos pensar que Filipe se dirija também a nós com aqueles dois verbos que exigem um envolvimento pessoal. Também a nós diz o que dissera a Natanael: "Vem e verás". O Apóstolo convida-nos a conhecer Jesus de perto. De fato, a amizade, o verdadeiro conhecer o outro, precisa da proximidade, aliás, de certa forma vive dela. De resto, não se deve esquecer que, segundo o que escreve Marcos, Jesus escolheu os Doze com a finalidade primária que "andassem com Ele" (Mc 3,14), ou seja, que partilhassem a sua vida e aprendessem diretamente dele não só o estilo do seu comportamento, mas sobretudo quem era Ele realmente. Com efeito, só assim, participando na sua vida, o podiam conhecer e depois anunciar. Mais tarde, na Carta de Paulo aos Efésios, ler-se-á que o importante é "aprender de Cristo" (4,20), portanto, não só e não tanto ouvir os seus ensinamentos, as suas palavras, mas ainda mais conhecê-lo pessoalmente, a sua humanidade e divindade, o seu mistério, a sua beleza. De fato, Ele não é só um Mestre, mas um Amigo, ou melhor, um Irmão. Como poderíamos conhecê-lo profundamente permanecendo distantes? A intimidade, a familiaridade, o habitual fazem-nos descobrir a verdadeira identidade de Jesus Cristo. Portanto: é precisamente isto que nos recorda o apóstolo Filipe. E convida-nos a "vir", a "ver", isto é, a entrar num contato de escuta, de resposta e de comunhão de vida com Jesus dia após dia.
Depois, por ocasião da multiplicação dos pães, ele recebeu de Jesus um pedido específico e surpreendente: onde era possível comprar o pão para saciar a fome de todo o povo que o seguia (cf. Jo 6,5). Então Filipe respondeu com muito realismo: "Duzentos denários de pão não chegam para cada um comer um bocadinho" (Jo 6,7). Veem-se aqui a praticidade e o realismo do Apóstolo, que sabe julgar as reais consequências de uma situação. Depois, como correram as coisas nós sabemo-lo. Sabemos que Jesus tomou os pães e, depois de ter rezado, distribuiu-os.
Assim realizou-se a multiplicação dos pães. Mas é interessante que Jesus se tenha dirigido precisamente a Filipe para obter uma primeira indicação sobre o modo de resolver o problema: sinal evidente de que ele fazia parte do grupo limitado que o circundava. Noutro momento, muito importante para a história futura, antes da Paixão, alguns gregos que se encontravam em Jerusalém para a Páscoa "foram ter com Filipe... e pediram-lhe: 'Senhor, nós queremos ver Jesus!'. Filipe foi dizer isto a André; André e Filipe foram dizê-lo a Jesus" (Jo 12,20-22). Mais uma vez, temos a indicação de um seu prestígio especial no âmbito do colégio apostólico. Sobretudo, neste caso, ele serve de intermediário entre o pedido de alguns gregos - provavelmente falava o grego e pôde disponibilizar-se como intérprete - e Jesus; Mesmo se ele se une a André, o outro Apóstolo com um nome grego, é contudo a ele que aquelas pessoas desconhecidas se dirigem. Isto ensina-nos a estar também nós sempre prontos, tanto a ouvir pedidos e invocações, de onde quer que venham, como a orientá-los para o Senhor, o único que os pode satisfazer plenamente. Com efeito, é importante saber que nós não somos os destinatários últimos das orações de quem nos aproxima, mas é o Senhor: para ele devemos orientar todo aquele que se encontre em necessidade. Então: cada um de nós deve ser um caminho aberto para ele!
Há depois outra ocasião completamente particular, na qual Filipe entra em cena. Durante a Última Ceia, tendo Jesus afirmado que conhecê-lo significa também conhecer o Pai (cf. Jo 14,7), Filipe pede quase ingenuamente: "Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta!" (Jo 14,8). Jesus responde-lhe com um tom de indulgente reprovação: "Há tanto tempo que estou convosco, e não me ficaste a conhecer, Filipe? Quem me vê, vê o Pai. Como é que me dizes, então, 'mostra-nos o Pai'? Não crês que Eu estou no Pai e o Pai está em Mim?... Crede-me: Eu estou no Pai e o Pai está em Mim" (Jo 14,9-11). Estas palavras são as mais nobres do Evangelho de João. Elas contêm uma profunda revelação. No final do Prólogo do seu Evangelho, João afirma: "A Deus jamais alguém o viu. O Filho Unigênito, que é Deus e está no seio do Pai, foi Ele quem o deu a conhecer" (Jo 1,18). Pois bem, aquela afirmação, que é do evangelista, é retomada e confirmada pelo próprio Jesus. Mas com uma nova característica. De fato, enquanto o Prólogo de João fala de uma intervenção esclarecedora de Jesus mediante as palavras do seu ensinamento, na resposta a Filipe Jesus faz referência à própria pessoa como tal, dando a entender que é possível compreendê-lo não só mediante o que diz, mas ainda mais mediante o que ele simplesmente é.
Para nos expressarmos segundo o paradoxo da Encarnação, podemos dizer que Deus se conferiu um rosto humano, o de Jesus, e por conseguinte de agora em diante, se verdadeiramente queremos conhecer o rosto de Deus, devemos contemplar o rosto de Jesus! No seu semblante vemos realmente quem é e como é Deus!
O evangelista não nos diz se Filipe compreendeu plenamente a frase de Jesus. Sem dúvida, ele dedicou-lhe totalmente a própria vida. Segundo algumas narrações posteriores (Atos de Filipe e outros), o nosso Apóstolo teria evangelizado primeiro na Grécia e depois na Frígia onde enfrentou a morte, em Hierápolis, com um suplício descrito diversamente como crucifixão ou lapidação.
Desejamos concluir a nossa reflexão recordando a finalidade para a qual deve tender a nossa vida: encontrar Jesus como o encontrou Filipe, procurando ver nele o próprio Deus, o Pai celeste. Se este compromisso viesse a faltar, seríamos remetidos sempre e só para nós como num espelho, e estaríamos cada vez mais sós! Ao contrário, Filipe ensina-nos a deixar-nos conquistar por Jesus, a estar com Ele e a convidar também outros a partilhar esta companhia indispensável. E vendo-o, encontrando Deus, encontrar a verdadeira vida.


***

Papa Bento XVI
Audiência Geral
Quarta-feira, 28 de Junho de 2006
Tiago, o Menor

Queridos irmãos e irmãs!
Ao lado da figura de Tiago "o Maior", filho de Zebedeu, do qual falamos na quarta-feira passada, nos Evangelhos aparece outro Tiago, que é chamado "o Menor". Também ele faz parte das listas dos doze Apóstolos escolhidos pessoalmente por Jesus, e é sempre especificado como "filho de Alfeu" (cf. Mt 10,3; Mc 3,18; Lc 5; At 1,13). Com frequência ele foi identificado com outro Tiago, chamado "o Menor" (cf. Mc 15,40), filho de uma Maria (cf. ibid.) que poderia ser a "Maria de Cléofas" presente, segundo o quarto Evangelho, aos pés da Cruz juntamente com a Mãe de Jesus (cf. Jo 19,25). Também ele era originário de Nazaré e provavelmente parente de Jesus (cf. Mt 13,55; Mc 6,3), do qual à maneira semítica é considerado "irmão" (cf. Mc 6,3; Gl 1,19).
Deste último Tiago, o livro dos Atos ressalta o papel preeminente desempenhado na Igreja de Jerusalém. No Concílio apostólico ali celebrado depois da morte de Tiago, o Maior, afirmou juntamente com os outros que os pagãos podiam ser acolhidos na Igreja sem antes terem que se submeter à circuncisão (cf. At 15,13). São Paulo, que lhe atribui uma aparição específica do Ressuscitado (cf. 1Cor 15,7), na ocasião da sua ida a Jerusalém nomeia-o inclusivamente antes de Cefas-Pedro, qualificando-o "coluna" daquela Igreja como ele (cf. Gl 2,9). Em seguida, os judeus-cristãos consideram-no o seu principal ponto de referência. A ele é também atribuída a Carta que tem o nome de Tiago e que está incluída no cânon neotestamentário. Ele não se apresenta nela como "irmão do Senhor", mas como "servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo" (Tg 1,1).
Entre os estudiosos debate-se a questão da identificação destas duas personagens com o mesmo nome, Tiago filho de Alfeu e Tiago "irmão do Senhor". As tradições evangélicas não nos conservaram narração alguma sobre um nem sobre outro em referência ao período da vida terrena de Jesus. Os Atos dos Apóstolos, ao contrário, mostram-nos que um "Tiago" desempenhou um papel importante, como já mencionamos, depois da ressurreição de Jesus, na Igreja primitiva (cf. At 12,17; 15,13-21; 21,18).
O ato mais relevante por ele realizado foi a intervenção na questão do relacionamento difícil entre os cristãos de origem judaica e os de origem pagã: nisto ele contribuiu juntamente com Pedro para superar, ou melhor, para integrar a dimensão originária judaica do cristianismo com a exigência de não impor aos pagãos convertidos a obrigação de se submeterem a todas as normas da lei de Moisés. O livro dos Atos preservou-nos a solução de compromisso, proposta precisamente por Tiago e aceite por todos os Apóstolos presentes, segundo o qual aos pagãos que acreditassem em Jesus Cristo se devia pedir apenas que se abstivessem do uso idolátrico de comer carne dos animais oferecidos em sacrifício aos deuses, e da "impudicícia", palavra que provavelmente se referia às uniões matrimoniais não consentidas. Na prática, tratava-se de aderir só a poucas proibições, consideradas bastante importantes, da legislação mosaica.
Deste modo, obtiveram-se dois resultados significativos e complementares, ambos ainda hoje válidos: por um lado, reconheceu-se a relação inseparável que une o cristianismo à religião hebraica como a sua marca perenemente viva e válida; por outro, foi concedido que os cristãos de origem pagã conservassem a própria identidade sociológica, que teriam perdido se tivessem sido obrigados a observar os chamados "preceitos cerimoniais" mosaicos: eles já não deviam ser considerados obrigatórios para os pagãos convertidos. Em suma, era iniciada uma prática de estima e respeito recíprocos que, não obstante lamentáveis incompreensões posteriores, tinha por sua natureza a salvaguarda de tudo o que caracterizava cada uma das duas partes.
A informação mais antiga sobre a morte deste Tiago é-nos oferecida pelo historiador judeu Flávio José. Nas suas Antiguidades Judaicas (20,201s), redigidas em Roma por volta do século I, ele narra que o fim de Tiago foi decidido por uma iniciativa ilegítima do Sumo Sacerdote Anano, filho de Anás, afirmado nos Evangelhos, o qual aproveitou do intervalo entre a deposição de um Procurador romano (Festo) e a chegada do sucessor (Albino) para decretar a sua lapidação no ano 62.
Em nome deste Tiago, além do apócrifo Protoevangelho de Tiago, que exalta a santidade e a virgindade de Maria, Mãe de Jesus, está particularmente relacionada com a Carta que tem o seu nome. No cânon do Novo Testamento ela ocupa o primeiro lugar entre as chamadas "Cartas católicas", isto é, destinadas não a uma só Igreja particular - como Roma, Éfeso, etc. - mas a muitas Igrejas. Trata-se de um escrito bastante importante, que insiste muito sobre a necessidade de não reduzir a própria fé a uma mera declaração verbal ou abstrata, mas de expressá-la concretamente em obras de bem. Entre outras coisas, ele convida-nos à constância nas provas alegremente aceites e à oração confiante para obter de Deus o dom da sabedoria, graças à qual chegamos à compreensão de que os verdadeiros valores da vida não consistem nas riquezas transitórias, mas antes em saber compartilhar as próprias substâncias com os pobres e com os necessitados (cf. Tg 1,27).
Assim a carta de São Tiago mostra-nos um cristianismo muito concreto e prático. A fé deve realizar-se na vida, sobretudo no amor ao próximo e particularmente no compromisso pelos pobres. É com esta base que deve ser lida também a famosa frase: "Assim como o corpo sem alma está morto, assim também a fé sem obras está morta" (Tg 2,26). Por vezes esta declaração de Tiago foi contraposta às afirmações de Paulo, segundo o qual nós somos tornados por Deus justos não em virtude das nossas obras, mas graças à nossa fé (cf. Gl 2,16; Rm 3,28). Contudo, as duas frases, aparentemente contraditórias com as suas perspectivas diversas, na realidade, se forem bem interpretadas, completam-se. São Paulo opõe-se ao orgulho do homem que pensa que não precisa do amor de Deus que nos antecipa, opõe-se ao orgulho da auto-justificação sem a graça simplesmente doada e não merecida. Ao contrário, São Tiago fala das obras como fruto normal da fé: "a árvore boa dá bons frutos", diz o Senhor (Mt 7,17). E São Tiago repete e transmite-nos este conceito.
Por fim, a carta de Tiago exorta-nos a abandonarmo-nos nas mãos de Deus em tudo o que fazemos, pronunciando sempre as palavras: "Se o Senhor quiser" (Tg 4,15). Assim, ele ensina-nos a não presumir que planificamos a nossa vida de modo autônomo e interessado, mas a dar espaço à vontade imperscrutável de Deus, que conhece o verdadeiro bem para nós. Desta forma São Tiago permanece um mestre de vida sempre atual para cada um de nós.


Fonte: Santa Sé

Nenhum comentário:

Postar um comentário