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terça-feira, 4 de setembro de 2012

Homilia do Papa na Solenidade da Assunção de Maria

Santa Missa na Solenidade da Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria
Homilia do Papa Bento XVI
Paróquia de Santo Tomás de Vilanova, Castel Gandolfo
Quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Prezados irmãos e irmãs!
No dia 1 de novembro de 1950, o Venerável Papa Pio XII proclamava como dogma que a Virgem Maria, «concluindo o curso da vida terrena, foi elevada à glória celeste em alma e corpo». Esta verdade de fé era conhecida pela Tradição, afirmada pelos Padres da Igreja, e representava sobretudo um aspecto relevante do culto prestado à Mãe de Cristo. Precisamente o elemento cultual constituiu, por assim dizer, a força motriz que determinou a formulação deste dogma: o dogma manifesta-se como um ato de louvor e de exaltação à Virgem Santa. Isto sobressai também do próprio texto da Constituição apostólica, onde se afirma que o dogma é proclamado «em honra do Filho, para a glorificação da Mãe e o júbilo de toda a Igreja». Assim, exprime-se de forma dogmática aquilo que já tinha sido celebrado no culto e na devoção do Povo de Deus, como a mais elevada e estável glorificação de Maria: o ato de proclamação da Assunção apresenta-se quase como uma liturgia da fé. E no Evangelho que há pouco ouvimos, a própria Maria pronuncia profeticamente algumas palavras que orientam nesta perspectiva. Ela diz: «Doravante, todas as gerações me chamarão bem-aventurada» (Lc 1,48). Trata-se de uma profecia para toda a história da Igreja. Esta expressão do Magnificat, mencionada por são Lucas, indica que o louvor à Virgem Santa, Mãe de Deus, intimamente unida a Cristo seu Filho, diz respeito à Igreja de todos os tempos e de todos os lugares. E a anotação destas palavras por parte do Evangelista pressupõe que a glorificação de Maria já estava presente no período de são Lucas e que ele a considerava um dever e um compromisso da comunidade cristã para todas as gerações. As palavras de Maria dizem que é um dever da Igreja recordar a grandeza de Nossa Senhora para a fé. Por conseguinte, esta solenidade é um convite a louvar a Deus e a contemplar a grandeza de Nossa Senhora, porque é no rosto dos seus que nós conhecemos quem é Deus.
Mas por que motivo Maria é glorificada com a Assunção ao Céu? Como ouvimos, são Lucas vê a raiz da exaltação e do louvor a Maria na expressão de Isabel: «Bem-aventurada aquela que acreditou» (Lc 1,45). E o Magnificat, este cântico ao Deus vivo e em acção na história, é um hino de fé e de amor, que brota do coração da Virgem. Ela viveu com fidelidade exemplar e conservou no mais íntimo do seu coração as palavras de Deus ao seu povo, as promessas feitas a Abraão, Isaac e Jacob, fazendo delas o conteúdo da sua oração: no Magnificat a Palavra de Deus tornou-se a palavra de Maria, lâmpada do seu caminho, de maneira a torná-la disponível a acolher também no seu seio o Verbo de Deus que se fez carne. A página evangélica de hoje evoca esta presença de Deus na história e no próprio desenrolar dos acontecimentos; aqui há uma referência particular ao Segundo Livro de Samuel no capítulo 6 (1-15), onde Davi transporta a Santa Arca da Aliança. O paralelo que o Evangelista faz é claro: Maria à espera do nascimento do Filho Jesus é a Arca Santa que traz em si a presença de Deus, uma presença que é fonte de consolação, de alegria plena. Com efeito, João dança no seio de Isabel, precisamente como Davi dançava diante da Arca. Maria é a «visita» de Deus que cria júbilo. No seu cântico de louvor, Zacarias di-lo-á explicitamente: «Bendito o Senhor, Deus de Israel, que visitou e redimiu o seu povo» (Lc 1,68). A casa de Zacarias experimentou a visita de Deus com o nascimento inesperado de João Baptista, mas sobretudo com a presença de Maria, que traz no seu seio o Filho de Deus.
Mas agora interroguemo-nos: o que é que a Assunção de Maria confere ao nosso caminho, à nossa vida? A primeira resposta é: na Assunção vemos que em Deus existe espaço para o homem, o próprio Deus é a casa de muitos aposentos da qual Jesus fala (cf. Jo 14,2); Deus é a casa do homem, em Deus há espaço de Deus. Quanto a Maria, unindo-se, unida a Deus, não se afasta de nós, não vai a uma galáxia desconhecida, mas quem procura Deus aproxima-se, porque Deus está próximo de todos nós; e Maria, unida a Deus, participa da presença de Deus, encontra-se extremamente próxima de nós, de cada um de nós. Há uma bonita palavra de São Gregório Magno sobre São Bento, que podemos aplicar de novo a Maria: São Gregório Magno afirma que o coração de São Bento se tornou tão grande, que toda a criação podia entrar nesse coração. Isto é válido ainda mais para Maria: totalmente unida a Deus, Maria tem um coração tão grande que toda a criação pode entrar nele, e os ex-votos demonstram-no em todas as partes da terra. Maria está próxima, pode ouvir, pode ajudar, encontra-se próxima de todos nós. Em Deus há espaço para o homem e Deus está próximo; quanto a Maria, unida a Deus, está extremamente próxima, tem um coração tão grande quanto o coração de Deus.
Mas existe também outro aspecto: não apenas em Deus existe espaço para o homem; no homem há espaço para Deus. Também isto vemos em Maria, a Arca Santa que traz em si a presença de Deus. Em nós há espaço para Deus, e esta presença de Deus em nós, tão importante para iluminar o mundo na sua tristeza, nos seus problemas, esta presença realiza-se na fé: na fé abrimos as portas do nosso ser, de tal forma que Deus entre em nós, a fim de que Deus possa ser a força que dá vida e caminho ao nosso ser. Em nós existe espaço, abramo-nos como Maria se abriu, dizendo: «Que se cumpra em mim a tua vontade, eu sou a serva do Senhor». Abrindo-nos a Deus, nada perdemos. Pelo contrário: a nossa vida torna-se rica e grande.
E deste modo fé, esperança e amor combinam-se entre si. Hoje existem muitas palavras sobre um mundo melhor a esperar: seria a nossa esperança. Se e quando este mundo melhor virá, nós não o sabemos, eu não sei. Obviamente, um mundo que se afasta de Deus não se torna melhor, mas pior. Somente a presença de Deus pode garantir também um mundo bom. Mas deixemos isto.
Uma realidade, uma esperança é certa: Deus espera por nós, aguarda-nos, não caminhamos no vazio, somos aguardados. Deus espera-nos e, indo para o outro mundo, encontramos a bondade da Mãe, encontramos os nossos, encontramos o Amor eterno. Deus aguarda-nos: esta é a nossa grande alegria e a grandiosa esperança que nasce precisamente desta festa. Maria visita-nos, é a alegria da nossa vida, e a alegria é esperança.
Portanto, o que podemos dizer? Coração grande, presença de Deus no mundo, espaço de Deus em nós e espaço de Deus para nós, esperança, ser esperado: tal é a sinfonia desta festa, a indicação que a meditação desta Solenidade nos concede. Maria é aurora e esplendor da Igreja triunfante; ela constitui a consolação e a esperança para o povo ainda a caminho, comenta o Prefácio hodierno. Confiemo-nos à sua intercessão materna para que, através do Senhor, fortaleçamos a nossa fé na vida eterna; ajude-nos a viver bem o tempo que Deus nos oferece com esperança. Uma esperança cristã, que não é apenas saudade do Céu, mas desejo vivo e concreto de Deus aqui no mundo, desejo de Deus que nos torna peregrinos incansáveis, alimentando em nós a coragem e a força da fé, que é ao mesmo tempo coragem e fortaleza do amor. Amém!


Fonte: Santa Sé

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