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sexta-feira, 16 de março de 2012

A Liturgia, obra da Trindade: Deus Filho

Confira o segundo dos três textos publicados pelo Ofício das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice em fevereiro de 2012 sobre a Liturgia como obra da Trindade.

À luz dos nn. 1084-1090 do Catecismo da Igreja Católica (CIC), reflete-se aqui sobre a obra do Filho na Liturgia:

Ofício das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice
A Liturgia, obra da Trindade: Deus Filho

Na segunda parte da seção sobre a Liturgia como obra da Santíssima Trindade, dedicada a Deus Filho, o Catecismo da Igreja Católica apresenta os elementos essenciais da doutrina sacramental. Cristo, Ressuscitado e glorificado, derramando o Espírito Santo no Seu Corpo que é a Igreja, age agora nos sacramentos e por meio deles comunica a sua graça. O Catecismo lembra a definição clássica dos sacramentos, que são:
1) sinais sensíveis (palavras e ações),
2) instituídos por Cristo,
3) que realizam de modo eficaz a graça que significam (CIC, n. 1084).

Na celebração dos sacramentos, ou seja, na sagrada Liturgia, Cristo, no poder do Espírito Santo, significa e realiza o Mistério Pascal da sua Paixão, Morte de Cruz e Ressurreição. Tal Mistério não é simplesmente uma série de eventos do passado distante (embora não se possa ignorar a historicidade daqueles acontecimentos!), mas entra na dimensão da eternidade, porque o “ator” – ou seja, Aquele que agiu e sofreu naqueles eventos - foi o Verbo encarnado. Por isso, o Mistério Pascal de Cristo “transcende todos os tempos e em todos se torna presente” (CIC, n. 1085) por meio dos sacramentos que Ele mesmo confiou à sua Igreja, especialmente o Sacrifício Eucarístico.

Este dom particular foi dado primeiro aos Apóstolos, quando o Ressuscitado, na força do Espírito Santo, deu-lhes o seu próprio poder de santificação. E os Apóstolos também deram tais poderes aos seus sucessores, os Bispos, e dessa forma os bens da salvação são transmitidos e atualizados na vida sacramental do povo de Deus até a parusia, quando o Senhor vier na glória para cumprir o Reino de Deus. Assim, a Sucessão Apostólica assegura que, na celebração dos sacramentos, os fiéis estejam imersos na comunhão com Cristo, que os abençoa com o dom do seu amor salvífico, especialmente na Eucaristia, onde oferece a si mesmo sob as aparências do pão e do vinho.

A participação sacramental na vida de Cristo tem uma forma específica, dada no “rito” que o então Cardeal Ratzinger em 2004 explicou como “a forma de celebração e de oração que amadurece na fé e na vida da Igreja”. O rito - ou melhor a família dos ritos que vêm das Igrejas de origem apostólica - “é forma condensada da Tradição viva (...) fazendo assim sensível, ao mesmo tempo, a comunhão entre as gerações, a comunhão com aqueles que rezam antes de nós e depois de nós. Assim, o rito é como um dom dado à Igreja, uma forma viva de parádosis [tradição]” (30Giorni, n. 12, 2004).

Referindo-se ao ensinamento da Constituição conciliar sobre a Sagrada Liturgia, o Catecismo aponta as diversas formas da presença de Cristo nas ações litúrgicas. Em primeiro lugar, o Senhor está presente no Sacrifício Eucarístico na pessoa do ministro ordenado, porque “oferecido uma vez na cruz, oferece novamente a Si mesmo através do ministério dos sacerdotes” [Concílio de Trento] e, especialmente, sob as espécies eucarísticas. Além disso, Cristo está presente com a sua virtude nos sacramentos, na sua Palavra quando é proclamada a Sagrada Escritura, e, finalmente, quando os membros da Igreja, Esposa amadíssima de Cristo, se reúnem em seu nome para a oração e o louvor (cf. CIC, n. 1088; Sacrosanctum Concilium, n. 7). Assim, na Liturgia terrena, realiza-se a dupla finalidade de todo o culto divino, isto é, a glorificação de Deus e a santificação do homem (cf. CIC, n. 1089).

Na verdade, a celebração terrena, tanto no esplendor de uma das grandes catedrais como nos lugares mais simples, mas dignos, participa da Liturgia celeste da nova Jerusalém e antecipa a glória futura na presença do Deus vivo. Essa dinâmica dá à Liturgia a sua grandeza, impede que a comunidade individual se feche em si mesma e a abre à assembleia dos santos da cidade celestial, como evocado na Carta aos Hebreus: “Mas vós vos aproximastes do monte Sião e da Cidade do Deus vivo, a Jerusalém celeste, e de milhões de anjos reunidos em festa, e da assembleia dos primogênitos cujos nomes estão inscritos nos céus, e de Deus, o Juiz de todos, e dos espíritos dos justos que chegaram à perfeição, e de Jesus, mediador de nova aliança, e do sangue da aspersão mais eloquente que o de Abel” (Hb 12,22-24).

Parece apropriado, portanto, concluir estes breves comentários com as palavras certeiras do Beato Cardeal Ildefonso Schuster, que descreveu a Liturgia como “um poema sagrado, ao qual realmente colocaram as mãos tanto o céu quanto a terra”.

Deus Filho (Vitral da Catedral de Quimper, França)

Fonte: Santa Sé.

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