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quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

Homilia do Papa: Jubileu dos Presos (2025)

Jubileu dos Presos
Homilia do Papa Leão XIV
Basílica de São Pedro
Domingo, 14 de dezembro de 2025

Foi celebrada a Missa do III Domingo do Advento (Ano A).

Queridos irmãos e irmãs,
Celebramos hoje o Jubileu da Esperança para o mundo carcerário, para os presos e todos aqueles que se dedicam à realidade penitenciária. Graças a uma escolha rica de significado, fazemo-lo no III Domingo do Advento, que a Liturgia define como “Gaudete”, partindo das palavras iniciais da antífona de entrada da Missa (cf. Fl 4,4). No Ano Litúrgico este é o Domingo “da alegria”, que nos lembra a dimensão luminosa da espera: a confiança de que algo de belo e alegre acontecerá.

A esse respeito, o Papa Francisco, ao abrir a Porta Santa da igreja do Pai nosso na Penitenciária de Rebibbia no dia 26 de dezembro do ano passado, dirigiu a todos um convite: «Digo-vos duas coisas. Primeiro: a corda na mão, com a âncora da esperança! Segundo: escancarai as portas do coração!». Referindo-se à imagem de uma âncora lançada à eternidade, além de qualquer barreira espaço-temporal (cf. Hb 6,17-20), convidou-nos a manter viva a fé na vida que nos espera e a acreditar sempre na possibilidade de um futuro melhor. Porém, exortava-nos a ser, ao mesmo tempo e com coração generoso, promotores de justiça e caridade nos ambientes em que vivemos.


Ao aproximar-se o encerramento do Ano Jubilar, devemos reconhecer que, apesar do empenho de muitos, ainda há muito a fazer neste sentido, mesmo no mundo carcerário, e as palavras do profeta Isaías que ouvimos - «os que o Senhor salvou, voltarão para casa. Eles virão a Sião cantando louvores» (Is 35,10) - recordam-nos que Deus é Aquele que resgata e liberta, e soam como uma importante e exigente missão para todos nós. É certo que o cárcere é um ambiente difícil, onde mesmo os melhores propósitos podem encontrar inúmeros obstáculos. Contudo, precisamente por isso, não devemos nos cansar nem desanimar ou recuar, mas avançar com tenacidade, coragem e espírito de colaboração. Com efeito, muitos ainda não compreendem que depois de cada queda deve ser possível levantar-se, que nenhum ser humano se reduz ao que fez e que a justiça é sempre um processo de reparação e reconciliação.

Quando, mesmo em condições difíceis, se conservam a beleza dos sentimentos, a sensibilidade, a atenção às necessidades dos outros, o respeito, a capacidade de misericórdia e perdão, então, da terra dura do sofrimento e do pecado, brotam flores maravilhosas e, mesmo entre as paredes das prisões, amadurecem gestos, projetos e encontros únicos em humanidade. Trata-se de um trabalho direcionado aos próprios sentimentos e pensamentos, necessário às pessoas privadas de liberdade e, em primeiro lugar, a quem tem o grande ônus de representar entre elas e para elas a justiça. O Jubileu é um chamado à conversão e, precisamente por isso, motivo de esperança e alegria.

Por isso, acima de tudo, é importante olhar para Jesus, para a sua humanidade e para o seu Reino, no qual «os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam... e os pobres são evangelizados» (Mt 11,5), recordando que, se às vezes esses milagres acontecem por intervenções extraordinárias de Deus, com mais frequência se encontram confiados a cada um de nós, à nossa compaixão, à atenção, sabedoria e responsabilidade das nossas comunidades e instituições.

E isso nos conduz a outra dimensão da profecia que escutamos: o compromisso de promover em todos os ambientes - hoje com destaque particular para as prisões - uma civilização fundada sobre novos critérios e, em última instância, sobre a caridade, como dizia São Paulo VI no final do Ano Jubilar de 1975: «Esta - a caridade - gostaria de ser, especialmente no plano da vida pública... o princípio da nova hora de graça e boa vontade que o calendário da história abre diante de nós: a civilização do amor!» (Audiência Geral, 31 de dezembro de 1975).

A esse respeito, o Papa Francisco desejava, em particular, que por ocasião do Ano Santo fossem também concedidas «formas de anistia ou de perdão da pena que ajudem as pessoas a recuperar a confiança em si mesmas e na sociedade» (Bula Spes non confundit, n. 10) e oferecer a todos oportunidades concretas de reinserção (ibid.). Estou confiante de que em muitos países se dará seguimento ao seu desejo. Como sabemos, na sua origem bíblica, o Jubileu era precisamente um ano de graça em que a cada um se oferecia, de muitas maneiras, a possibilidade de recomeçar (cf. Lv 25,8-10).

Também o Evangelho que ouvimos nos fala disso. João Batista, enquanto pregava e batizava, convidava o povo a converter-se e a atravessar de novo, simbolicamente, o rio, como no tempo de Josué (cf. Js 3,17), para entrar na posse da nova “terra prometida”, isto é, de um coração reconciliado com Deus e com os irmãos. Nesse sentido, a sua figura de profeta é eloquente: era justo, austero, franco a ponto de ser preso pela coragem das suas palavras - não era «um caniço agitado pelo vento» (Mt 11,7) - e, ao mesmo tempo, era rico em misericórdia e compreensão para com aqueles que, sinceramente arrependidos, procuravam com esforço mudar (cf. Lc 3,10-14).

A esse respeito, Santo Agostinho, em um famoso comentário à passagem evangélica da adúltera perdoada (cf. Jo 8,1-11), conclui dizendo: «Tendo partido os acusadores, ficaram apenas... a mísera e a misericórdia. E o Senhor disse-lhe: (...) Podes ir, e de agora em diante não peques mais (Jo 8,11)» (Sermão 302, 14).

Caríssimos, a tarefa que o Senhor vos confia a todos - reclusos e responsáveis pelo mundo carcerário - não é fácil. Os problemas a enfrentar são numerosos. Pensemos na superlotação, no empenho ainda insuficiente para garantir programas educativos estáveis de reabilitação e oportunidades de trabalho. E, a nível mais pessoal, não esqueçamos o peso do passado, as feridas a curar no corpo e no coração, as desilusões, a paciência infinita que é necessária - consigo mesmo e com os outros - quando se empreende um caminho de conversão, e a tentação de desistir ou deixar de perdoar. Não obstante, o Senhor continua, acima de tudo, a repetir-nos que só uma coisa é importante: que ninguém se perca (cf. Jo 6,39) e que todos «sejam salvos» (1Tm 2,4).

Que ninguém se perca! Que todos sejam salvos! É quanto deseja o nosso Deus, nisto consiste o seu Reino, neste sentido se orienta a sua ação no mundo. Ao aproximar-se o Natal, queremos abraçar também nós e com ainda mais força o seu sonho, constantes no nosso empenho (cf. Tg 5,8) e confiantes. Porque sabemos que, mesmo diante dos maiores desafios, não estamos sozinhos: o Senhor está próximo (cf. Fl 4,5), caminha conosco e, com Ele ao nosso lado, sempre algo de belo e alegre acontecerá.


Fonte: Santa Sé.

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